Sob o manto diáfano da
democracia, a nudez crua do fascismo.
Temos uma democracia
cebola, quando penetramos nela, choramos. Nem sabemos muito bem porquê, limitamo-nos
a chorar, incomodados e indiferentes às lágrimas que correm abundantes.
Ficamos com os olhos
de tal forma marejados, que deixamos de ver e acabamos por pelar a dita, com
gestos mecânicos, repetidos, ignorantes do ardor que nos incomoda os olhos.
É assim a nossa
democracia, um ardor de alma e algibeira.
Percorremos a
cidadania como se fossemos amblíopes, às cabeçadas nos direitos, aos tropeções
nos deveres.
Cortam-nos salários,
esfregamos os olhos, desviam dinheiro público para a compra de submarinos,
franzimos a testa, põem-nos a cofinanciar o Serviço Nacional de Saúde,
espirramos, resgatam bancos falidos fraudulentamente com o nosso dinheiro,
fungamos, reduzem-nos os benefícios sociais para os quais descontamos, fazemos
um esgar, aconselham-nos a emigração, fechamos os olhos…
Temos sempre a
possibilidade de parar, lavar a cara, olhar em volta, enfim reorganizar as
coisas. Mas lá está a maldita cebola, a exalar os seus vapores ácidos, como que
a dizer, se me queres comer, não tens outra opção senão descascar-me, penares
até ao fim, não há outro modo… E nós insistimos. Deixamos de ver os
transportes, a escola, os correios, a electricidade, o serviço público de
televisão, a própria água e choramos, choramos muito.
Enquanto choramos os
donos da cebola engordam e arranjam outras cebolas que teremos de pelar.
Dividem entre si o
saque, pagam-se principescamente dos roubos que cometem e nós espirramos, e choramos
e fungamos e batemos com as mãos nos olhos e descascamos, descascamos, até eles
se fartarem dos nossos serviços e encontrarem outra democracia cebola para
explorarem.
(Imagem daqui)
(Imagem daqui)
muito bom !
ResponderEliminarapoiado !