sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Democracia Cebola




Sob o manto diáfano da democracia, a nudez crua do fascismo.
Temos uma democracia cebola, quando penetramos nela, choramos. Nem sabemos muito bem porquê, limitamo-nos a chorar, incomodados e indiferentes às lágrimas que correm abundantes.
Ficamos com os olhos de tal forma marejados, que deixamos de ver e acabamos por pelar a dita, com gestos mecânicos, repetidos, ignorantes do ardor que nos incomoda os olhos.
É assim a nossa democracia, um ardor de alma e algibeira.
Percorremos a cidadania como se fossemos amblíopes, às cabeçadas nos direitos, aos tropeções nos deveres.
Cortam-nos salários, esfregamos os olhos, desviam dinheiro público para a compra de submarinos, franzimos a testa, põem-nos a cofinanciar o Serviço Nacional de Saúde, espirramos, resgatam bancos falidos fraudulentamente com o nosso dinheiro, fungamos, reduzem-nos os benefícios sociais para os quais descontamos, fazemos um esgar, aconselham-nos a emigração, fechamos os olhos…
Temos sempre a possibilidade de parar, lavar a cara, olhar em volta, enfim reorganizar as coisas. Mas lá está a maldita cebola, a exalar os seus vapores ácidos, como que a dizer, se me queres comer, não tens outra opção senão descascar-me, penares até ao fim, não há outro modo… E nós insistimos. Deixamos de ver os transportes, a escola, os correios, a electricidade, o serviço público de televisão, a própria água e choramos, choramos muito.
Enquanto choramos os donos da cebola engordam e arranjam outras cebolas que teremos de pelar.
Dividem entre si o saque, pagam-se principescamente dos roubos que cometem e nós espirramos, e choramos e fungamos e batemos com as mãos nos olhos e descascamos, descascamos, até eles se fartarem dos nossos serviços e encontrarem outra democracia cebola para explorarem.
 (Imagem daqui)

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