domingo, 15 de janeiro de 2012

são tão lindas as borboletas


todos os dias limpo o cu a borboletas agarro-as às mãos cheias para não sujar os dedos e resulta

compro-as em pacotes de cinco mil mais quinhentas grátis

embalagem poupança importadas da polinésia

são as mais macias e não provocam alergias

cada vez há menos flores na polinésia mas estou-me nas tintas

sou burguês do capitalismo ocidental e penso

todos os dias limpo o cu e penso inquieta-me o sentido da vida

fico nervoso já nem deus me descansa

quero renegociar o peso da consciência que todos os dias se multiplica

nem tudo é culpa minha quero uma auditoria

à noite antes de dormir vou à casa de banho e penso em mim e na vida

olho-me por dentro e vejo uma praga em expansão no sótão dos macaquinhos

vejo os mortos do meu conforto que ressuscitam quando querem nem esperam pela páscoa

e é contra eles que luto neste momento mais íntimo

então num último esforço expulso o último tormento

descolo o rabo da sanita aliviado como novo leve e descontraído

limpo o cu dou meia volta e olho para baixo gosto sempre de ver o que faço

e são tão lindas as borboletas

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