todos os dias limpo o cu a borboletas agarro-as às mãos cheias para não sujar os dedos e resulta
compro-as em pacotes de cinco mil mais quinhentas grátis
embalagem poupança importadas da polinésia
são as mais macias e não provocam alergias
cada vez há menos flores na polinésia mas estou-me nas tintas
sou burguês do capitalismo ocidental e penso
todos os dias limpo o cu e penso inquieta-me o sentido da vida
fico nervoso já nem deus me descansa
quero renegociar o peso da consciência que todos os dias se multiplica
nem tudo é culpa minha quero uma auditoria
à noite antes de dormir vou à casa de banho e penso em mim e na vida
olho-me por dentro e vejo uma praga em expansão no sótão dos macaquinhos
vejo os mortos do meu conforto que ressuscitam quando querem nem esperam pela páscoa
e é contra eles que luto neste momento mais íntimo
então num último esforço expulso o último tormento
descolo o rabo da sanita aliviado como novo leve e descontraído
limpo o cu dou meia volta e olho para baixo gosto sempre de ver o que faço
e são tão lindas as borboletas
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