sábado, 31 de dezembro de 2011

2012 Vai Ser Bué Da Fixe


2011 foi o ano que iniciamos como cidadãos e encerramos como hilotas.
Ao abdicarmos sem luta da nossa soberania, alienamos a nossa liberdade e agora somos apenas braços, sem cabeça, sem autonomia. Vivemos para trabalhar. 
somos um Sísifo colectivo, acorrentados a uma existência sem esperança.
E mesmo assim, apesar de conscientes desta  condição, não reagimos, não ultrapassamos o medo, baixamos a cerviz, e continuamos a seguir a voz dos capatazes.
Sim! somos instruídos por capatazes que elegemos, mas que são os piores de nós, porque se o nosso medo é colectivo, o deles é egoísta. Cuidam que agradando aos opressores, se salvam do desviver. Preferem ser metecos em terra alheia, mesmo que seja a que os viu nascer, a assumirem os direitos de quem lhes confiou o destino e a quem mentiram e atraiçoaram. São psicopatas os nossos capatazes! sem culpas, nem ambição que não seja o que vêem à frente dos narizes.
Tiram-nos direitos e chamam-lhes regalias, roubam-nos a escola dos filhos, condenam-nos à doença, impõem-nos o trabalho sem retorno, perseguem-nos a dignidade e apregoam que assim tem de ser, que é este o caminho que leva à libertação, que a pobreza é abundância. Cantam em coro "Arbeit Macht Frei" e riem-se nos seus gabinetes à prova de lágrimas, e passeiam-se nos seus carros potentes por entre o povo a quem roubaram tudo.
Entretanto aconselham-nos a partir, a emigrar a deixar de mãos vazias uma terra que já não é a nossa.
2012 será o ano que iniciaremos como hilotas e viveremos feitos escravos, ou então como cidadãos... se perdermos o medo.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

feliz anus novo


e se eu te desejasse um bom ano que farias tu

vai à merda os anos não existem

porque não me desejas uma boa hora de cada vez que passam sessenta minutos

estás a ser ridículo

ah pois é podes crer esta época é ridícula

porque nada acaba nem nada começa ou melhor tudo acaba e tudo começa como sempre ou não

a vida não é uma agenda que se compra de folhas em branco a cada doze meses

a vida ou se vive ou não

a tua vida é o tempo que ainda não vendeste

talvez estejas vivo talvez não

faz as contas e decide

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Mala de Cartão ou ronda do Desassossego


Depois dos governamentais apelos à emigração e dos apaniguados améns de alguns confrades, vem agora a comunicação social, obediente, pôr umas luminárias a emitirem opinião acerca do fenómeno.
Um rol de rasgados elogios; para eles estamos fadados para a Diáspora..
Já eu sinto (de sentir) o contrário.
Recuso-me a admitir que a desistência é salvação.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Esclarecimento de S. Nicolau



Há uns dias atrás, fui até à Sociedade Portuguesa de Autores para resolver uns pequenos problemas de carácter pessoal. Lá chegado, deparei-me com um grande burburinho causado por uma figura estranha.
Um homenzarrão já entrado na idade, envergando um fato vermelho, debruado com umas peles falsas de cor branca e com um gorro a condizer enterrado até às orelhas. Para acentuar o bizarro, falava num tom intenso de trombone amachucado e a sua boca mais parecia a entrada de uma gruta nos Himalaias já que estava quase tapada por uma imensa e espessa barba branca que lhe chegava até ao peito, morrendo num estômago redondo como uma abóbora menina.
- Quem é a figura? Indaguei ao recepcionista, que já estava mais transtornado do que um peru na véspera de Natal.
- E eu sei lá quem é o cromo…
Só sei que chegou aqui aos berros, a dizer que é o Pai Natal e veio receber os direitos que lhe são devidos pela utilização continuada e abusiva da sua imagem de marca, imagine!
- É mesmo isso!!!  Gritou o homem.
- Chame lá alguém que resolva o problema, e rápido que eu não tenho o dia todo…
-Eu chamo mas é a polícia, se você não desaparecer daqui.
Como sou uma alma compassiva e previdente, antevendo uma sessão de pugilato, convidei o excêntrico a beber um café e conversar um bocado, no intuito de o acalmar. Como ele aceitou, lá fomos nós até uma cafetaria em frente da SPA, e sentados a uma mesa fomos desfiando conversa. Bem interessante diga-se de passagem.
Este é sem dúvida um caso em que as aparências não iludem.
- Oh homem, você parece mesmo o Pai Natal, vestido dessa maneira…
- Mas eu sou o Pai Natal
-Desculpe mas não acredito, aliás, nem sequer acredito que o Pai Natal exista, quanto mais tê-lo por aí nas ruas com uma crise de mau feitio.
- Mau feitio diz o meu caro amigo, mas se imaginasse as atribulações por que tenho passado, acabaria por me dar razão.
- Tem de concordar que para um nórdico, perde as estribeiras muito facilmente…
- E quem lhe disse que eu sou nórdico?
- É o que consta.
- Pois consta! Mas não corresponde à verdade.
Eu nasci em Lycia, na Ásia Menor, hoje seria um turco de nascimento, e fui bispo de Myra, também na actual Turquia, como vê não tenho nada de nórdico.
- Mas então de onde surge a lenda?
- Sabe, eu era uma pessoa muito abastada, e gostava de ajudar. Um vizinho meu, bastante pobre, tinha três filhas que, devido à fome que passavam começaram a recorrer à prostituição para se sustentar e à família. Eram tão solicitadas que era um desassossego à porta da sua casa e da minha, foi então que decidi atirar para dentro da casa delas, um saco cheio de moedas de ouro na esperança que elas com aquele dinheiro assentassem e foi o que aconteceu, só que alguém me viu atirar o dinheiro e a partir daí fiquei com fama de santo e nunca mais tive sossego. Tive mesmo de me ir embora.
Neste ponto o meu interlocutor olhou para o copo de cerveja já vazio e eu, como a sua história começava a interessar, apressei-me a pagar mais uma rodada.
Depois de ter bebido a sua imperial de um trago, lá prosseguiu a sua narrativa já bastante mais animado.
- Como ia dizendo, parti da minha terra, um bocado a contra gosto, diga-se de passagem.
Quando cheguei a Bizâncio a fama de generoso milagreiro precedia-me, de tal sorte que em qualquer lugar em que parasse juntava-se uma pequena multidão a suplicar ajuda, e, para conseguir alguma tranquilidade ia fazendo o que podia.
Um belo dia, num caminho secundário, escolhido na esperança vã de não ser incomodado, deparei-me com três rapazes prostrados, mortos, pelo menos aparentemente, e um homem atlético com um pau na mão, a observá-los com um ar desesperado. Quando lhe perguntei o que tinha sucedido, disse-me que eram seus aprendizes e que num acesso de fúria os tinha morto à paulada. Fiquei horrorizado com tamanha barbaridade e, logo ali o invectivei enquanto lhe chamava a atenção para o grande pecado que tinha cometido. Foi então que o bruto me reconheceu, pedindo-me de joelhos e mãos postas que os ressuscitasse e que, se eu obrasse tal prodígio, ele se converteria à minha fé e jamais atentaria contra a vida de alguém.
Tentei explicar-lhe que tal não era possível, que só Deus decide da vida ou da morte de cada um, e acto contínuo debrucei-me sobre os corpos para os observar melhor. Imagine o meu espanto quando os rapazes se ergueram ainda aparentemente  atordoados da experiência do além e me agradeceram de modo efusivo ter-lhes restituído a vida. O pobre homem, largou de imediato em desfilada em direcção ao povoado, a gritar que Nicolau tinha operado mais um milagre, quanto aos moços, esses assim que o viram longe, largaram numa galhofa desabrida, vangloriando-se da partida que tinham pregado ao infeliz, já que apenas se tinham fingido de mortos para evitar uma surra maior.
Fiquei furioso e resolvi aplicar-lhes um correctivo que jamais esquecessem, dei-lhes então a escolher entre regressar à sua aldeia e contar toda a verdade, ou seguirem viagem comigo como meus discípulos, sujeitando-se a uma existência ascética e não isenta de perigos, tal como a minha.
Para mal dos meus pecados aceitaram seguir-me e lá fomos os quatro, estrada fora, intentando chegar a Roma que era ainda a grande urbe do Império para nos fixarmos por lá numa existência pacata e sobretudo anónima, esperança vã, como mais adiante verá.
Entretanto, já a fama do pretenso milagre correra mundo e por onde passássemos uma multidão de famintos e desesperados se juntava a nós formando um estranho cortejo de párias e deserdados da fortuna, muitos deles sem escrúpulos, tendo como único fito aproveitar-se de minha fama e da ingenuidade dos demais. Entre esses, os primeiros eram sem dúvida os meus três discípulos, se assim lhes posso chamar, que em meu nome prometiam mundos e fundos e a salvação eterna, em troca de inúmeros e indizíveis favores. Apesar de tudo a minha fama de santo homem ia aumentando e com ela o número dos meus seguidores.
O fenómeno assumiu proporções tais, que me vi perseguido e capturado por ordem do Imperador, tendo-se mesmo discutido se não seria preferível dar por findos os meus dias na terra, executando-me publicamente. Alguém houve no entanto, que por temer um levantamento, aconselhasse o Imperador a encarcerar-me indefinidamente, e, foi isso que aconteceu. Enfiaram-me num cárcere e deitaram a chave ao Tibre.
Esses tempos de prisão terão sido dos melhores da minha existência e ainda me recordo deles com grande nostalgia. Pude por fim repousar em recato, alhear-me do mundo, ter apesar da privação da liberdade física, soltado o meu espírito, e isso afigurava tudo o que eu sempre tinha querido da vida.
Entretanto a fama da minha santidade continuava a crescer e nem a reclusão forçada impedia que me fossem atribuídos milagres, de tal sorte que se viram compelidos a libertar-me e a atribuir-me um bispado. Ou melhor a confirmar-me como bispo de Myra.
- Então e depois, como começou a lenda?
- Bem, os meus últimos anos foram tranquilos, sem nunca me libertar da fama de santo milagreiro, consegui apesar de tudo uma certa placidez nos meus dias. Ia dando umas esmolas, especialmente quando saía. Na minha ingenuidade oferecia algumas moedas a quem se cruzava comigo e me reconhecia, para que a minha presença não fosse denunciada. Mas saia-me tudo ao contrário e os beneficiários do meu gesto agradeciam-me com tal impetuosidade que logo se juntava uma turba de carenciados à minha volta a pedir auxílio, e não me deixavam enquanto não satisfizesse todos os seus pedidos. Mas acostumei-me a isso e arranjei um assistente parecido comigo que ficava no meio da maralha enquanto eu me escapulia e ia à minha vida.
Entretanto faleci e fui sepultado em Bari.
Finalmente a eternidade, pensei eu invadido por um alívio benfazejo. Durante alguns séculos assim foi. Quem simbolizava o Natal era Jesus, de forma bastante eficiente, diga-se em abono da verdade, e as pessoas quase se tinham esquecido de mim.
Só que para mal dos meus pecados, se é que os tive, alguém se lembrou de desenterrar a minha lenda, e puseram-me a calcorrear o mundo na véspera de Natal, só para distribuir presentes aos mais necessitados, e não satisfeitos com isso fui obrigado a conduzir um veículo puxado por renas, imagine, eu que nunca vi tais bichos em toda a minha vida.
Apesar de tudo nem era mau, só tinha que trabalhar um dia no ano, e sempre ia acumulando uns créditos na escala dos santos. Também era bom para a igreja, já que não expunha a imagem de Cristo, reservada apenas para ocasiões especiais, além de que muita gente lucrava com o negócio, e eu de forma indirecta também já que os beneficiados contribuíam com a sua gratidão interessada para o crescimento do meu prestígio.
Até que os Estado-unidenses se meteram ao barulho e no seu afã de controlar o negócio deram cabo da galinha dos ovos de ouro.
É por isso que estou aqui.
- Desculpe mas não entendo, aqui em Lisboa, em 2000 e… não vejo a ligação.
- Bom, e no entanto é simples. Sabe que até aos anos trinta do sec. XX eu não me vestia com estas farpelas ridículas, era até bastante discreto, vestia-me de castanho e as renas eram silenciosas, deslizavam pelo céu a bem dizer. Até que um dia, alguém se lembrou de fazer dinheiro à minha custa, então vestiram-me de encarnado e afixaram milhares de cartazes pelo mundo inteiro comigo nestes preparos e ainda por cima a beber um refrigerante gaseificado de cor castanha…
Associaram-me a uma bebida! Foi o primeiro passo, a partir daí todos se sentiram no direito de usar a minha imagem para os mais diversos fins, e retorno nem vê-lo. Destruíram uma imagem que levou séculos a criar sem nenhum pudor, e oi que é mais grave, é que o prestígio que eu tinha acumulado junto dois meus colegas santos desapareceu num ápice e comecei a ser alvo de chacota.
Fiquei sem prestígio, sem crédito, de tal modo desmoralizado, que nem forças tive para reagir quando começaram a contratar qualquer um para me personificar, uma tragédia.
Mesmo assim continuei a respeitar as minhas obrigações até que no ano passado quando sobrevoava Nova Iorque e passava junto à estátua da Liberdade, algum iluminado me confundiu com um terrorista islâmico, por causa das barbas e do veículo um pouco rudimentar que eu conduzia há séculos sem nunca ter tido um acidente, e pimba, dispararam sobre mim e abateram-me. Caí no Hudson e as minhas renas coitadas, afogaram-se.
Fiquei privado de exercer as minhas funções e resolvi lutar pelos meus direitos. Vou exigir todos os direitos de autor e correlativos referentes aos últimos mil e quinhentos anos.
- Mas porquê em Lisboa.
- Por ser mais fácil, pelo menos era o que eu julgava. Vocês tinham fama de ser os últimos a acreditar no Pai Natal.
Mas pelos visto enganei-me.
Dito isto, levantou-se da mesa e partiu em direcção ao pôr-do-sol, mas a pé, porque as renas já eram.






Merry Crisis and a Happy New Fear


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Solstício de Inverno



Sou um homem de fé. Não sou religioso, não acredito na divina providência, nunca que me recorde, fiquei acordado à espera que o menino Jesus colocasse uma prenda no meu sapatinho. A minha fé não se espelha nesses recursos.
Tenho fé na natureza, num equilíbrio cósmico, na inevitável caminhada do ser humano em busca da equidade, da justiça.
Acredito na solidariedade, acredito na diferença enquanto motor do desenvolvimento, acredito piamente que um dia, no futuro, todos encontrarão o seu lugar no mundo, acredito que ninguém verá o seu espaço usurpado, a sua dignidade abusada, a sua vontade subjugada a interesses egoístas de alguns, que no fito de atingirem poder e notoriedade, construíram uma sociedade à sua imagem, um imenso castelo de cartas sempre em precário equilíbrio.
Nesta época do ano, que é ao mesmo tempo de reflexão e de solidariedade, em que é suposto pararmos, repensarmos as nossas vidas, ponderarmos o nosso caminho, gostaria de poder dizer aos meus filhos que vivemos num mundo em que um por cento dos homens não detém mais de vinte por cento de toda a riqueza.
 Gostaria de lhes poder dizer que a riqueza desse um por cento não se constrói sobre o sofrimento dos demais, que não existem desigualdades que levem crianças como eles a trabalhar horas sem fim, fazendo brinquedos que outras crianças usarão.
Gostaria de saber que todos são de facto iguais perante a lei, que todos têm o mesmo direito à educação, à saúde, que todos sem excepção podem decidir de igual modo sobre o que a todos pertence.
Gostaria de ver os velhos viverem o fim dos seus dias em conforto, com os sonhos cumpridos, arredados do fantasma da solidão. Gostaria que o homem fosse, apenas, e não que fosse aquilo que possui.
Gostaria de fazer parte de uma sociedade que assumisse ser o colectivo muito mais do que a soma de todos os que a compõem, uma sociedade em que cada um pudesse dar o seu contributo escolhido e não o que lhe é imposto para assegurar uma subsistência que deveria estar garantida desde o seu nascimento.
Gostaria de ter nas mãos a resposta, não apenas no coração.
Mas sou um homem de fé e sinto no fundo de mim… que um dia chegará essa alegria suprema de viver em liberdade no meio de gente livre.
A minha fé é lutadora, porque sei da importância das coisas pequenas, sei que com pequenos passos se faz o caminho e sei também que os passos de um homem, podem ser os de todos, porque sempre foi assim, porque do exemplo se faz a luta.
Há quem diga que Natal é sempre que um homem queira, como não sou crente, prefiro recorrer à ancestralidade e festejar o Solstício de Inverno, o tempo que celebra um novo ciclo, o retomar da vida, as novas sementes que se lançarão à terra.
É isso que vos desejo nesta quadra, que lancem à terra novas sementes de igualdade e de solidariedade, e que elas floresçam e frutifiquem e que juntos cuidemos delas.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Porque no te callas?!!!

Depois da idiotice de PPC sobre a emigração de professores e de outros quadros qualificados, sim, o homem não se referiu só aos professores, eis a resposta da Europa:

"While the situation is particularly difficult in several countries, there are also better performers to learn from. In the majority of Member States (18 out of 27), the youth unemployment rate is above 20% (Eurostat data of October 2011). Six Member States have rates between 10 and 20%, in thirteen the rates range from 20 to 30 % and in five the rate is over 30% (EL, ES, IRL, PT, SK). In only three Member States the youth unemployment rate is under 10% (AT, DE, NL).
The primary responsibility for tackling youth unemployment lies with Member States, including at regional and local levels.
Their authorities finance education and social programmes and have the policy levers and the budget to support youth employment schemes. The national or sectoral social partners also play a key role, particularly in areas such as apprenticeships, training and working practices.

(…)

Member States with above average youth unemployment and average ESF execution rates (CY, IT, PL, SE and SK) need to focus on their specific difficulties either in implementation (IT) or in readapting ESF measures to respond to specific needs such as skills matching or employers incentives and better access to start-up loans for young people (PL)."

Sendo um imbecil com provas dadas, não terá lido os documentos publicados. Aliás, os seus assessores e adjuntos recolhidos nos blogues do costume, deviam prestar mais atenção. São só 13 páginas.

P.S. Alguém no Grande Oriente, onde aliás, estão excelentes historiadores, que dê umas explicações ao Ministro Relvas sobre a vocação universalista dos portugueses. É um favor feito ao mano. Escusa de dizer asneiras na televisão.


Festas Felizes



Tendemos a ver o mundo à luz da nossa candeia.
Esquecemo-nos que os nossos problemas são apenas sintomas de um mal maior. Numa sociedade globalizada como a nossa, tudo o que se passa num qualquer lugar tem reflexos em toda a parte, esta é uma realidade que não podemos iludir.
Várias causas se podem apontar para a génese da actual crise, mas apenas uma é transversal às outras: a desigualdade social.
Não é possível o desenvolvimento sustentado num mundo em que 1% dispõe de mais de 20% dos bens, deixando o resto para os restantes. Mas o resto é um arco-íris da desgraça, porque mesmo entre os 99% os bens disponíveis não são repartidos de forma justa.
A vasta imensidão das gentes, tem menos que nada, porque acresce ainda à sua miséria a exploração e a exclusão de que é vítima.
Esta é a realidade!
Seria crível que numa sociedade tão desenvolvida tecnologicamente, o “ser” se sobrepusesse de forma categórica ao “ter,” já que existem meios mais do que suficientes para que as mais básicas necessidades de qualquer um de nós estejam à partida satisfeitas.
O que falta então?
Falta em primeiro lugar a vontade de comunicar, o entendimento de que só é possível criar sinergias através da diferença e que quantos mais pólos existirem, mais nos enriqueceremos enquanto sociedade.
As diferenças não são fronteiras, são horizontes.
O lado do “ter” digamos assim, baseia-se numa falácia perigosa, que por tanto repetida se transformou num paradigma gerador de pesadas injustiças, sustenta-se o axioma de tudo ter um valor intrínseco. Não é verdade!
A tudo se atribui um valor e a partir daí tudo terá um preço, tudo se avalia em função de uma regra comum. Como será isso possível?
Através da sua dispensabilidade?
Mas haverá algo indispensável além do ar e da água? Só que com esta premissa até o ar e a água têm preço…
Ninguém neste mundo é mais do que pode ter, quando a regra deveria ser a oposta, ou seja, todos são para além do que possam ter. Ter é um mero instrumento para a afirmação do ser, é a cana de pesca cósmica.
Quando se desvaloriza o trabalho na sociedade do “ter,” desvaloriza-se o esforço que o trabalho representa. Quando se valoriza o trabalho na sociedade do “ser,” valoriza-se o conforto (físico, intelectual, etc.) que esse trabalho proporciona.
Numa sociedade desenvolvida as crianças são um bem inestimável, são o sentido da vida, todas são responsabilidade de todos e todas são uma bênção, não um fardo, a sua educação não pode ter fronteiras, não pode estar sujeita a ditames circunstanciais, elas terão de ser apoiadas no seu crescimento assumido como um desabrochar, terão de ter sempre a possibilidade de criarem o seu  caminho. Não é isso que se passa, a maioria vê ser-lhe negada a hipótese de ter sequer liberdade para jogar, para brincar, para ser gente inteira. Outros em lugar de acederem à educação autentica, são integrados numa conveniente linha de montagem, a  “empregabilidade,” passam a ser meros objectos de perpetuação do sistema, anestesiados, transeuntes de vidas extemporaneamente anquilosadas.
A saúde não é a superação da doença, é a ausência dela. Como ela é encarada, é consequência do que antes afirmei; numa sociedade que valoriza o “ter” as pessoas passam a ser fungíveis, com prazos de validade, esgotam-se, e enquanto força de trabalho terão de ser substituídas. Se não produzem são custos, logo excedentárias, logo descartáveis.
A forma de as eliminar é sibilina. São mandadas para um limbo em que não sejam numeráveis, deixam de ter nome, são-lhes cerceados direitos (nunca vi um sem-abrigo com cartão de crédito, com nº de segurança social, com NIF) deixam na prática de existir, e se ainda damos por elas é porque a sua única utilidade é servirem de lembrete, de aviso funcional, expostos com a dignidade roubada enquanto à sua volta a opulência grita: É isto que te acontecerá se não seguires o carreiro, se não te irmanares no rebanho.
São lembradas no Natal, em directo, ao vivo e a cores, para que ninguém esqueça que o grande irmão está atento.
Por tudo isto desejo-vos boas festas.

Compra a tua felicidade



domingo, 18 de dezembro de 2011

Pode um ignorante ser Primeiro-Ministro? Pode!

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, sugere que os professores desempregados emigrem para países lusófonos, realçando as necessidades do Brasil.

Pode um ignorante ser Primeiro-ministro? Pode!!!
Este senhor não sabe que a profissão é, em todos os Estados, uma profissão regulamentada?
Este, licenciado em Economia pela Universidade Lusíada, não sabe que, em todos os países, o sistema de ensino assenta em concursos, ou em sistemas de recrutamento com algum grau de complexidade, como por exemplo, exames de acesso, certificações pelos poderes administrativos, etc?
Não sabe este senhor que as crianças portugueses são as que menos vão à escola em toda a Europa?
Não pode este tipo emigrar e ser primeiro-ministro noutro lado qualquer?

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Manual do ....

Um erro Cra(ss)to

Crato diz que vai poupar 102 milhões sem dispensar professores do quadro.

Um erro Cra(ss)to.Nunca percebi o abanar de cauda com a nomeação deste senhor.

Um ex-UDP, "les beaus esprits se retrouvent," que habitou durante anos um subúrbio de Nova Jerséi e que confunde o sistema educativo da rua onde viveu com o sistema que devia gerir.

Regressamos ao ler, escrever e contar, uns pós de Inglês e, com um ar seráfico, saem umas baboseiras sobre exames, e sobre os núcleos essenciais do saber. Será muito difícil fazer o que o Reitor Nóvoa está farto de escrever????

O Gueto


Em Varsóvia foram fechados.
Por cá também. Não levantaram um muro à nossa volta, nem andam armados até aos dentes com cães de guarda presos pela trela, nem fazem rondas de carros blindados, nem ainda disparam indiscriminadamente antes de perguntar, mas cercaram-nos, deram-nos um nome e mesmo antes de nos julgar lançaram um veredicto. Somos maus, somos culpados e temos de nos penitenciar e aceitar a nossa sorte e ficarmos quietos no lugar que nos destinaram.
No gueto, em Varsóvia, as pessoas não tinham direitos, nem o direito de serem gente.
Por cá também não.
É certo que temos uma Constituição e habitamos um território que afirmam ser nosso e temos um Parlamento e exército e polícia, também temos uma língua velha de séculos e mar, muito mar e um cemitério com 92090 km2.
Temos Constituição que não se cumpre, que é apenas um papel votado por um parlamento que já não decide. O nosso exército é feito de homens e mulheres e de generais, muitos generais que generalizam sem exercitar, é um exército parado de costas viradas, ofuscado pelo brilho das comendas, pelo chão encerado dos gabinetes.
O território, ahh o território... é feito de cidades viradas ao mar e de deserto, muito deserto com poucas pessoas, errantes, à espera que um dia o nevoeiro chegue e tudo floresça, à espera que tudo volte a ser o que nunca foi.
Também temos líderes, mas são fictícios, como em Varsóvia limitam-se a transmitir as ordens que recebem do lado de fora do gueto, sem se importarem com o nosso destino, porque eles sabem bem que o nosso destino é o fim e querem fugir-lhe, eles e os seus. Querem à custa das nossas vidas, assegurar as suas próprias. Vendem-nos em troco de um lugar à lareira e de uma confortável ração.
Temos polícia é verdade. Mas como em Varsóvia a nossa polícia existe apenas para evitar a revolta, obedece aos obedientes lideres em troco das migalhas que vão apanhando e assim vivem adiando o seu próprio fim.
Em Varsóvia morriam de doença porque não tinham hospitais e os médicos morriam de desespero porque não tinham com que curar.
Cá também.
Em Varsóvia as crianças iam à escola, não para aprenderem a crescer, a tomarem nas mãos o seu próprio destino. Iam à escola para que a submissão lhes fosse instilada, como um veneno.
Por cá também.
Em Varsóvia morria-se aos poucos.
Por cá também.
Em Varsóvia no gueto, as pessoas usavam uma estrela amarela no peito.
Por cá ainda não...

Stick it to the man!


domingo, 11 de dezembro de 2011

Há gajos com tomates, dass! Ah valente!!

Mais dia menos dia tem um "acidente" de carro, um ataque cardíaco, uma briga perdida com o secador de cabelo durante o banho ou, como tem estado na moda, acusado de assédio sexual...


sábado, 10 de dezembro de 2011

Cavaco, Sócrates e agora estes meninos...

...deram cabo disto!

Porquê???

"José Sócrates diz que pagar dívidas do Estado é ideia de criança: "Para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança. As dívidas dos Estados são, por definição, eternas. As dívidas gerem-se. Foi assim que eu estudei".
E acrescentou: "Claro que não devemos deixar crescer a dívida muito, porque isso pesa depois sobre os encargos. Todavia, para um país como Portugal, é essencial financiamento para desenvolver a economia".

Caro leitor, já percebeu por que estamos na bancarrota? Sócrates não percebe nada de Economia e não aprendeu com os erros. Vejamos: se o Estado se endividar para fazer investimentos úteis, o retorno desses investimentos é suficiente para amortizar a dívida contraída. Não há razão para não pagar dívida se há dinheiro. Foi isso que fizeram Suécia e Irlanda (esta até ao colapso do seu sistema financeiro) nos últimos 20 anos.

As dívidas só se mantêm elevadas, e por isso têm de ser "roladas", quando os investimentos não criam riqueza. Como aconteceu connosco na última década e meia. Além de que "rolar" dívida é arriscado: quando os mercados percebem que o Estado se viciou em endividamento, penalizam os detractores.

Mais: se de repente o Estado tiver de se endividar para fazer a uma emergência, o stock de dívida (e o seu custo) disparam para níveis proibitivos. Exactamente o que Sócrates fez nos últimos três anos: levou a dívida pública de 68% para 100% do PIB (com retorno zero).

Só há uma coisa que não percebo nesta conversa: onde mesmo é que Sócrates "estudou" estas teorias? Definitivamente não se deve tirar cursos ao fim-de-semana…"

in Negócios Online, por Camilo Lourenço


e de onde é que esta gentalha manhosa vem? São tugas, pois então...


"Um jovem diplomata português, em diálogo com um colega mais velho:
- Francamente, senhor embaixador, devo confessar que não percebo o que correu mal na nossa história.

Como é possível que nós, um povo que descende das gerações de portugueses

- que "deram novos mundos ao mundo",
- que criaram o Brasil,
- que viajaram pela África e pela Índia,
- que foram até ao Japão e a lugares bem mais longínquos,
- que deixaram uma língua e traços de cultura que ainda hoje sobrevivem e são lembrados com admiração,

como é possível que hoje sejamos o mais pobre país da Europa ocidental?

O embaixador sorriu:

- Meu caro, você está muito enganado. Nós não descendemos dessa gente  aventureira, que teve a audácia e a coragem de partir pelo mundo, nas caravelas, que fez uma obra notável, de rasgo e ambição.

- Não descendemos? - reagiu, perplexo, o jovem diplomata - Então de quem descendemos nós?

- Nós descendemos dos que ficaram cá..."


Cambada...

terça-feira, 29 de novembro de 2011

A Guerra é a Guerra

Este governo não é o governo dos portugueses, é uma comissão liquidatária. O seu objectivo é pagar a dívida. Não importa se ela é legítima ou se pelo contrário é produto de especulação e de corrupção, ou de mau governo. Tem de ser paga como exigem os credores. Depois logo se verá.

Para isso não é necessário um grande exercício. Basta cortar onde é mais fácil, onde é mais rápido. Basta ir buscar ao outro lado; ao trabalho.

Há um dito que define o capitalismo, “nunca ponhas os ovos todos no mesmo cesto”, é verdade.

Nunca os puseram, sempre souberam adequar estratégias, cresceram, e o que parecia um retrocesso no seu percurso, como o advento do estado social, foi apenas a criação de uma barreira ao desenvolvimento de filosofias mais igualitárias. Na verdade, durante estas tréguas da segunda metade do séc. XX, souberam cimentar posições, alargar a teia de interesses que sustenta o capitalismo financeiro, e partir para um patamar superior de dominação.

Embora existam Estados, o capital não tem fronteiras. Grande parte da sua força reside precisamente nisso, na inexistência de uma resposta global. Asseguram o mundo a retalho, estimulando divisões entre países, para melhor dominarem.

Existe de facto uma guerra, que não é entre nações, antes entre classes, e é uma guerra sem tréguas.

Enquanto os conflitos anteriores se desenrolaram entre exércitos, o terreno deste é bastante mais cínico.

Em nenhuma guerra o interesse primário foi devastar o território conquistado, senão de que serviria? Esta é disso um paradigma. Em todas as guerras o povo constituiu a maioria das vítimas, a carne para canhão, e aí o que menos contava era a nacionalidade dos mortos, antes o número controlável de sobreviventes enquanto mão-de-obra mais barata, mais maleável, mais permeável aos interesses das classes ditas superiores. Passa-se o mesmo hoje em dia, não morrem de bala, morrem de fome, de doença, de miséria e deixam com a sua morte um espaço de sobrevivência às próximas vítimas.

Só globalizando a resposta, esta guerra pode ser ganha, não há outra forma.

Os problemas que enfrentamos são os mesmos na sua essência em qualquer parte do globo e devem ser resolvidos com um empenho global.

Temos de fazer como o Marlowe, seguir a pista do dinheiro, descobrir onde é que eles guardam os ovos.

2 ou mais velocidades


sábado, 26 de novembro de 2011

pesca à linha

Vem-me à ideia aquele sábio ditado que diz: “se queres ajudar alguém, não lhe dês peixe, ensina-o a pescar.”

Ensinar a pescar é uma prova de amor, nós ensinamos os nossos filhos a pescar, porque os queremos ver livres, a trilharem os seus caminhos, sem terem de depender do nosso peixe.

Colectivamente essa dádiva de cidadania é feita pela escola, e quanto melhor, mais inclusiva, mais abrangente ela for, melhor serão os resultados.

Qualquer pai abdica de si para ver o seu filho crescer, afirmar-se, poder sem receios transformar-se ele próprio num pai. É a lei da vida.

Existe no entanto uma diferença, pouco subtil até. Alguns de nós são pais, outros limitam-se a ser pais dos seus rebentos, e para esses a escola é apenas o instrumento que possibilita arrebanhar tanto peixe quanto se puder. Para eles interessa até que a maioria não saiba pescar, interessa que a maioria contemple e admire e venere os pescadores encartados.

Preocupam-se então em criar escolas exclusivas a que só alguns acedam e tudo fazem para destruir a escola de todos. O pretexto é de uma atroz simplicidade. Não é necessário que todos pesquem, basta que haja peixe para todos. A partir daí uns ficam com as espinhas, outros com o lombo. Uns contentam-se com pouco, outros dispensam os restos.

A austeridade actual é um instrumento! Cortar na escola é o objectivo, porque se todos soubessem pescar haveriam muito menos tempestades no mar, muito menos náufragos a dar à costa.

Sem escola, sem educação, seremos sempre escravos dos pescadores à linha…

Twilight Zone


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Go Fuck Yourself!!





























fotografia por Rui Alves

A Cidade Oculta


Dentro dos muros de uma cidade, habitam muitas cidades.
Habita a cidade da noite, que existe, não quando o sol se põe e a penumbra cai, mas quando a cidade do dia adormece por fim.
Habita a cidade do desencanto,  daqueles que fazem seus os vãos de escada.
Habita a cidade do faz de conta, traçada a régua e esquadro nos gabinetes que não a vivem.
Habita a cidade perpendicular, dos encontros e desencontros.
Habita a cidade paralela, dos que jamais se cruzarão.
Habita a cidade das histórias, das que se contam,  das que se guardam e até mesmo das que jamais existiram nem nunca existirão.
Habita a cidade solar, iluminada e exposta, mais a lunar, feita de véus que lhe dissimulam as formas.
Habita a cidade da esperança e do desencanto, da dor e do júbilo, dos amores e desamores, da paixão, da indiferença.
Dentro dos muros de uma cidade habita gente.
Se gente não houvesse dentro dos muros da cidade moraria  uma necrópole.
Sombras de sombras de sombras...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

25 de Novembro, sempre! 2ª. parte


Estabilizado a situação, um ano depois iniciava-se a normalização democrática. As eleições produziram os resultados esperados.
Um sistema teoricamente inclinado à esquerda, mas que nunca produziu maiorias de esquerda. Aliás, consegue ser o único país do mundo onde um partido se chama social-democrata e faz parte do partido popular europeu que agrupa a direita europeia.
Mas o que se passou antes?Um dos mais extraordinários acontecimentos políticos da história europeia: um golpe militar que se transformou numa Revolução.
Centenas e milhares de pessoas, despolitizadas, pouco habituadas a participar na vida da pólis, com o medo da Pide, do patrão, do sr. Diretor Geral, tomaram o seu destino nas mãos. Sim, claro, com exageros. Mas foi um tempo em que os portugueses construíram na rua, na luta, o seu futuro e o seu destino.
Foram as Comissões de Moradores, as ocupações de terras para serem produtivas, as fábricas, parte delas falidas pela crise internacional... e pela fuga dos donos de Portugal
Isto, a Direita portuguesa, a mais estúpida do mundo, como os Bourbons, que não esqueceram nada e não aprenderam nada, nunca perdoou.
Tem agora a oportunidade que desenhou, suspirou e promoveu durante anos. Vingar-se!
Vingar-se das leis do trabalho, dos 14 meses de salário, do direito das pessoas que trabalham a uma saúde decente ( honra a dois homens bons, António Arnaut e Albino Aroso...), a reformas públicas, a escola para todos, a transportes baratos e eficientes, no fundo ao nosso incipiente Estado Providência.
Isto, esta gente não perdoa.
Acantonados no Fórum para a Competitividade, ou no Compromisso Portugal, ou numa palermice chamada Projecto Farol, esta gente, que não dá a cara, viu a sua oportunidade.
A esquerda fez-lhe o favor de iniciar o caminho.
Só na rua serão parados.
Só nas pontes entre as esquerdas encontraremos a alternativa ou as alternativas.
O regime saído de 25 de Abril terminou. Discutamos as alternativas, ou então como Warren Buffet bem avisou: " Sim. É uma luta de classes, e a minha está a ganhar".
Resta saber se é isto que queremos.

ps. O título do post é, obviamente, uma blague.

3 strikes and they're out...


Greve

(Nuno Andrade)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Greve Geral



Amanhã vou à greve!
Vou deixar de lado o trabalho e as compras no super ”mercado” e vou à greve.
Não sei lá muito bem onde ela fica, mas se perguntar todos me dirão, acho mesmo que nem precisarei de perguntar, deve haver muita gente como eu que quer ir à greve e se não a encontrarmos fazemos uma onde estivermos.
Não deve ser uma greve tão imponente, sem televisão e sem comentários de ex presidentes, mas será a que se pode arranjar.
Assim quando me perguntarem lá no trabalho onde estive, eu responderei que estive na greve e se questionarem o que fui lá fazer, direi que nada, ou seja, exactamente o mesmo que faria se fosse contra a ida à greve. Nada!
E se mesmo assim me perguntarem porque raio fui eu à greve para não fazer nada. Direi que fui para poder ser patrão por um dia…

terça-feira, 22 de novembro de 2011

25 de Novembro, sempre!


Depois de um Verão Quente, preparava-se em Portugal um Outono escaldante. Foi em Novembro de 1975. Dia 25 de Novembro.Há 36 anos.
Ainda hoje não se sabe bem quem, porquê e para quê mandou os paraquedistas tomar a base de Tancos, dando início a um contra-golpe chefiado pelo futuro Presidente da República, Ramalho Eanes.
Nem os próprios protagonistas se entendem: Otelo diz que ordem não partiu dele, Vasco Lourenço diz o contrário. E é interessante olhar para estes dois irmãos inimigos, uma espécie de brothers in arms que, com a idade, vão lutando para ocupar um lugar na História....
O Partido Comunista diz que nada teve a ver com o assunto.
Que foi uma coisa da extrema-esquerda militar, enquanto os partidos do arco da governação, pela voz dos seus velhos protagonistas, vão deixando escapar pormenores sobre os tórridos dias que se viviam então: a distribuição de armas, os contactos com os serviços estrangeiros, a ligação com os terroristas da extrema-direita.
Para a História fica a atrapalhação de Duran Clemente na RTP, enquanto a emissão passava para o Porto e o contra-golpe começava.

domingo, 20 de novembro de 2011

Carta aberta ao PS

Caro PS:

Vou ser sincero. Deixei há muito tempo de confiar em ti e de votar em ti. As desilusões têm um efeito cumulativo, e as que tu me deste foram muitas e vêm de longe. Há um ponto a partir do qual se torna impossível fechar os olhos à corrupção, ao amiguismo, à capitulação, à falta de ideais.

Não foste - longe disso - o único partido socialista europeu a deixar-se transportar na ilusão neoliberal. Quanto a isto, é possível que até nem tenhas grande culpa: era o espírito dos tempos. Mas depois de 2008? Depois de se ter tornado óbvio, escancaradamente óbvio, a quem servia a doutrina económica dita ortodoxa? Não poderias ter feito desde essa altura, ou pelo menos esboçado, o teu exame de consciência? Que considerações, que compromissos, que rabos de palha te impediram de o fazer? Podias ter saído da torre de marfim politqueira onde te encerraste ou te encerraram. Podias ter olhado à tua volta. Podias ter visto, ouvido e lido o que se estava e está a passar no mundo. Porque escolheste permanecer cego e surdo?

Quando governaste, governaste mal. Atacaste com afinco e com acinte, não só os trabalhadores em geral, mas também, de entre estes e em particular, as classes médias e as classes profissionais que eram o teu principal sustentáculo. Onde estavas com a cabeça? Atacaste direitos chamando-lhes privilégios, e deixaste os privilégios como estavam, se é que os não favoreceste ainda mais. Chegaste a ser o único partido parlamentar - nota bem, o único - a colocar obstáculos inultrapassáveis a que se combatesse eficazmente a corrupção. Talvez me fosse possível perdoar-te o resto. Isto, nunca.

Assinaste um acordo com a troika em que se previa que o défice das contas públicas fosse atacado em dois terços pelo lado da despesa e num terço pelo lado da receita. Porquê esta proporção e não outra qualquer? Ocorreu-te sequer fazer esta pergunta? Que tabu, que fetiche te paralisou o cérebro? Abstiveste-te na votação dum Orçamento de Estado que decorria deste acordo. Com que cara vens agora mendigar ao governo que devolva metade do que ajudaste a roubar aos funcionários públicos e aos reformados?

Agora anuncias a tua abstenção quanto à Greve Geral do dia 24. Não me surpreende esta atitude: era a que esperava de ti, dado o teu currículo. Mas compreende uma coisa: o mundo está em guerra. Já não a podes evitar com paninhos quentes. E quem se mantiver na terra de ninguém ficará sob fogo cruzado.

Já não tens muito tempo. Ou te colocas, rapidamente e sem equívocos, do lado dos 99%, ou ficas para sempre do lado dos 1%. E estes não te ficarão gratos: para ti, doravante, a vida será sempre a perder.

Encontrado aqui.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Há dinheiro, pois há!

«QUE PARTE É QUE NÃO PERCEBEU?»

"Ao que se soube há umas semanas atrás, há 24 mil euros por mês para pagar a renda do magnífico andar, em plena Avenida da Liberdade, onde está instalada a Direcção-Geral das Artes (enquanto as artes do palco e os artistas vivem e trabalham quase sempre em condições miseráveis). Não há dinheiro? Como há 40 milhões de euros para um opíparo subsídio ao dr. Jorge Coelho para construir um novo armazém para os Coches em Belém. Não há dinheiro? Em Guimarães 2012, os ordenados dos administradores começam nos 10 mil euros mensais e só Deus sabe onde acabam (e, das gratificações dos ilustres membros do seu Conselho Geral, será talvez melhor nem falar). Não há dinheiro?"

Público - Que parte é que não percebeu? Há dinheiro!

jornal.publico.pt

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Número de circo ou Artista (sobre)dotado!?

Despacho do SEAF, Pág 4485 do Diário da República, 2.ª série -- N.º 217 - 11 de Novembro de 2011

Gabinete do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais Despacho n.º 15296/2011
Nos termos e ao abrigo do artigo 11.º do Decreto -Lei n.º 262/88, de 23 de Julho, nomeio o mestre João Pedro Martins Santos, do Centro de Estudos Fiscais, para exercer funções de assessoria no meu Gabinete, em regime de comissão de serviço, através do acordo de cedência de interesse público, auferindo como remuneração mensal, pelo serviço de origem, a que lhe é devida em razão da categoria que detém, acrescida de dois mil euros por mês, diferença essa a suportar pelo orçamento do meu Gabinete, com direito à percepção dos subsídios de férias e de Natal.
O presente despacho produz efeitos a partir de 1 de Setembro de 2011. 9 de Setembro de 2011.
O Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo de Faria Lince Núncio. 205324505

Post Scriptum:
Este "artista" defendeu no Parlamento a teoria de que o ordenado mínimo nacional até era elevado!!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

The nhac nhac society


O meu jornal de parede


Minhas Senhoras, Meus Senhores
Alguém me perguntou como vejo eu, um sem-abrigo de Budapeste, o mundo actual? A resposta é simples: Como uma pirâmide composta de gente em perpétuo movimento, deambulatório, supostamente desorganizado.
Milhões de pessoas, a trepar umas, outras a descer, todas a escorrerem como um cacho de abelhas a formar colmeia.
O prisma, de topo afilado e base estreita, tem por via da sua configuração, faces de escalada difícil enquanto a descida é vertiginosa, incontrolável, quase queda, em abono da verdade.
O alto é tão distante do baixo, que quem o ocupa nem vislumbra o chão, por outro lado quem lhe suporta o peso, tem do vértice uma vaga ideia; limita-se a saber que existe muito para além das nuvens, não o distingue e quando tenta lançar-lhe a vista, tem de apontar os olhos ao céu…
 Pois é! Quem não sabe é como quem não vê. Há uma ignorância prazenteira, um arco-íris, nessa forma de ignorar o mundo.
Por isso os espertos abençoam sempre os pobres de espírito, porque deles é o reino do amanhã, e é bem verdade. Tão verdade que os homens de poder fizeram sua esta máxima. Artistas exímios do disfarce, foram criando ao longo dos tempos indistinguíveis véus, que por artes mágicas se vão sobrepondo em convenientes transparências, mas estas em lugar de revelar, mistificam.
Hoje em dia o lado efémero da verdade já não é um imprevisto, um factor aleatório, que transtorne percursos estudados. É isso sim, um instrumento, um conhecimento aprofundado por anos e anos de prática. Aposta-se nessa contínua mudança do que é, para retalhar a memória, e determinar o futuro reconstruindo o passado. Não que o passado se apague, mas sublinham-se ocorrências, altera-se a orografia dos factos e o que antes seria um simples grão de areia, num momento será o mais imponente dos Everest, para logo a seguir se transformar na mãe de todos os atóis.




Abril

O problema em Portugal é que o povo grita "25 de Abril Sempre!" e os políticos fazem acontecer o 1 de Abril todos os dias!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ministro da Economia em três tempos

manhã - "2012 vai ser o ano do fim da crise"

hora do almoço - "pois, os mercados são difíceis de ler, mas 2012 vai marcar o início do fim da crise"

final da tarde - "como!? impossível, eu não disse isso!! em economia e finanças tudo é relativo. sabe-se lá o que aí vem até 2013 ou 2014!"

R.I.P. 2012


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Eu Cá Sou Deste Planeta



Assisti hoje a um espectáculo confrangedor, dado pelo Ministro da Economia e respectivo gabinete, no Parlamento.
Este governo vive numa outra dimensão, completamente desligado do que se passa neste país. Nada de surpreendente, se tivermos em conta que o seu objectivo não passa, nunca passou, pela nossa recuperação económica. O fim que tem em vista, não é outro senão a satisfação integral dos interesses dos credores, custe o que custar.
Não existem pessoas no seu universo, apenas números, dados estatísticos, modelos genéricos que assimilaram e insistem em pôr em prática, independentemente dos danos irreparáveis que possam causar na nossa economia.
São fundamentalistas respaldados no poder financeiro, convictos de estarem acima do comum dos cidadãos, intocáveis, com lugar garantido na mesa dos despojos.
Quando se fala do fim da democracia na Grécia e em Itália, governadas por gente que não foi sufragada nas urnas, que não representa a vontade popular, dever-se-ia partir do princípio, que nestas circunstâncias é mais fácil a revolta, que é legítima a deposição destas extensões do poder financeiro, como legítima é a reposição do primado da vontade popular.
Por cá as eleições existiram, mas não houve debate porque os dados estavam viciados à partida com a assinatura do acordo com a Troika, e estavam também viciados porque a comunicação social está nas mãos, precisamente, de quem beneficia com esse acordo.
Foram passadas mentiras como se de verdades absolutas se tratassem, foram silenciadas as vozes discordantes e mais grave, com medo que não fosse suficiente, fizeram-se promessas e declarações de intenção que na prática se revelaram o oposto. E isso, já estava previsto ser feito.
Nós não vivemos em democracia, pelo contrário, vivemos na mais cinzenta das ditaduras. A da ignorância! Ocorre-me a imagem de uma sala de cinema com encenação tão perfeita, que apesar de nos sabermos espectadores de uma má ficção, a vivemos como se fosse real.
A resposta, essa, não reside num país, não é viável quando demarcada por fronteiras. Sendo a agressão global, ela terá também de ser global.
Por isso eu sou Grego e Italiano e Espanhol e Sírio e Coreano e estou em Wall Street e na faixa de Gaza e onde houver gente a lutar por um novo paradigma, mais justo, mais sustentado, mais integrado.
Eu sou um habitante deste planeta e tudo o que nele se passa me diz respeito.