Há um enorme fedor no ar.
Fedor exalado por esta cloaca neoliberal em que o mundo se transformou e a que nós nos habituamos ao ponto de já nem ligar.
Como diria o bardo, "cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas." A crise, os mercados, as dívidas soberanas, o euro, o tanas!
São tudo tangas, minhas senhoras e meus senhores, desculpas simplórias.
A essência da coisa é outra, bem diversa. Vivemos num mundo de abundância, nunca se esteve tão perto, diria mesmo à distância de um piscar de olhos, de erradicar a fome, acabar com uma série de doenças ditas crónicas, eliminar conflitos, globalizar de facto aproximando as pessoas. Porque é que isso não acontece?
É-me impossível não transcrever aqui umas quantas palavras do meu velho Camarada Paul Lafargue no seu "O Direito à Preguiça," atentemos nelas:
"...Se as crises industriais se seguem aos períodos de excesso de trabalho tão fatalmente como a noite ao dia, provocando o desemprego forçado e a miséria sem saída, provocam também inexoravelmente a bancarrota. Enquanto o fabricante tem crédito, dá largas ao ardor pelo trabalho, pede e volta a pedir emprestado para fornecer matéria prima aos operários. Obriga a produzir, sem pensar que o mercado sufoca e que caso as mercadorias se não vendam, as suas notas se transformarão em letras. Embaraçado vai pedir ao Judeu, laça-se-lhe aos pés, oferece~lhe a vida e a honra. "Um pouco mais de dinheiro far-lhe-ia jeito", responde o Rothschild. "O senhor tem em armazém 20000 pares de meias de senhora, que valem vinte patacos, eu fico-lhe com elas por quatro patacos."
Uma vez compradas as meias o Judeu vende-as a seis e oito patacos, e mete no bolso as buliçosas moedas de cem patacos que não devem nada a ninguém: mas o fabricante recuou para saltar melhor. Dá-se por fim o descongestionamento e os armazéns despejam-se; atiram-se então pela janela tantas mercadorias que não se sabe como é que entraram pela porta. Cifra-se em centenas de milhões o valor das mercadorias destruídas; no século passado (XIX) eram queimadas ou lançadas à água.
Mas antes de chegarem a esta conclusão, os fabricantes percorreram o mundo em busca de mercados para as mercadorias que se amontoam; obrigam os seus governos a anexar Congos, a apoderar-se dos Tonquins, a demolir a tiros de canhão as muralhas da China, para aí venderem os seus tecidos de algodão... os capitais são tão abundantes como as mercadorias. Os finaceiros já não sabem onde investi-los; vão então para as nações felizes que se estendem ao sol a fumar cigarros, montar caminhos de ferro, construir fábricas e importar a maldição do trabalho."
Sempre foi assim; assim continua a ser.
Desvivemos a vida em função dos perpétuos interesses de uma minoria, que em Portugal é hereditária, como no resto da Europa aliás.
Termino com uma pergunta e respectiva resposta: Sendo os Romanos, os Gregos, os Egípcios tão evoluídos cientificamente... dispondo eles do conhecimento para construir uma máquina a vapor, por exemplo, porque não o fizeram?
Porque tinham os escravos...
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