Um destes dias circulava eu por entre as gentes, quando ouvi uma conversa que me captou a atenção. Orientei as antenas, disfarcei-me de desinteressado e fiquei por uns momentos a escutar a charla.
Não vos vou relatar a dita, seria falta de educação e, a meu ver a cusquice para ter algum resultado não pode ser "pro bono." Tem de ser paga e editada e publicada numa revista do social e eu, que não sou jornalista de interiores, nem tenho pretensões a sê-lo, não estou para aí virado.
Falava-se do "Museu do Artesanato e Design", coisa séria está bom de ver. De um lado sustentava-se que artesanato e design são complementares, assim a modos que sapatos e atacadores; uma colher de osso é uma peça de design de fabrico artesanal, tal como os corpetes em barbas de baleia, ou um preservativo em carneira utilizado pelas forças napoleónicas quando invadiram a península. Do outro lado, que não senhor! que o artesanato transporta consigo a matriz cultural de um povo, que é o repositório de saberes e vivências acumulados através dos séculos e não pode por isso mesmo ver as suas peças misturadas com outras, produto de uma qualquer linha de montagem na China ou na Índia ou até mesmo em Massamá. As tintas, a cardação da lã, as horas de amor gastas no barro ou na madeira, ou na cortiça. Os saberes transmitidos de pais para filhos, de geração em geração.
Confesso que muito embora a argumentação dos que defendiam o casamento entre artesanato e design, fizesse algum sentido, me inclinei mais para os puristas do artesanato. Mas depois pensei, fará isto algum sentido? Afinal o que se pretende com a criação do novo museu, não é mais do que enfiar o Rossio na betesga... querem lá eles saber dos artesãos e do artesanato. Agarram numas quantas peças que sustentem a teoria do casamento, metem-nas nuns expositores e a coisa está feita. Ou seja, entrega-se um espaço público, mais parte do seu acervo a um coleccionador privado e, se o homem é coleccionador... que exponha a sua colecção, que nós pagamos e com um bocadinho de sorte ainda comemos uns croquetes à pala da inauguração...
Pois é! Design é concepção, Artesanato vai muito para além disso, mas pronto, assim vai o mundo.
Olhem... até me lembrei dos pentelhos e dos pelos do cu, são muito próximos mas não podem ocupar nunca o mesmo espaço.
Enfim... são coisas.
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