A corrupção está instituída, faz parte do sistema e é ela que o alimenta.
Quando integramos uma sociedade em que o móbil é o lucro, em que as coisas se fazem equacionando sempre a relação custos/benefícios, completamente direccionada para o lado material da vida, estamos conversados.
Já ouvi elocubrações acerca dos presidentes de Câmara corruptos, que fazem muito mais pelas suas autarquias do que os impolutos, veja-se o caso de Oeiras. Já assisti a defesas entusiasmadas da necessidade de contornar as regras para as coisas avançarem, já assisti até à desculpabilização de desvios, porque o infractor não era suficientemente pago... enfim, o que pesa aqui é a desresponsabilização quotidiana das pessoas.É mais fácil fechar os olhos, encolher os ombros e seguir em frente, do que denunciar e assumir o dever básico de cidadania, que é o de zelar por aquilo que é de todos. Será isto consequência da mordaça do Estado Novo? Repugna-me a ideia de alguém que se diz o supra sumo da decência, recorrer à cunha, ao favorzinho, ao parentesco, a sei lá que mais, para ver concretizado determinado objectivo, para depois vir arrogar-se de estandarte moral da vizinhança e criticar o parceiro do lado pela mesma prática.
Gente de merda, sem espinha. Só assim é possível que no maior roubo da história breve da segunda república, o caso BPN, tudo continue em águas de bacalhau e o único detido, em prisão domiciliária, com todo o conforto e mordomias que o produto dos roubos sucessivos lhe dá; o único detido dizia eu, seja um homem que padece de doença terminal, ao que julgo saber. Nem falo já de outros casos, como o da Moderna, ou a compra dos submersíveis, ou o desvio de fundos comunitários em proveito próprio, ou o enriquecimento súbito de uma série de figurões que por aí pululam. O que se passa com o Face Oculta? Que é das auditorias prometidas às ppp?
A corrupção é útil, porque é a veia que sustenta os vampiros e o povo, esse, compraz-se em sonhar que ascende na escala social para mamar também.
Temos assim que neste desconchavo, o bom chefe de família é o que sustenta os seus; não o que lhes transmite valores e integridade e respeito pelos outros.
Temos internet e aviões e outros avanços designados por intermináveis palavrões, mas humanamente estamos ainda na idade média.
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