(Texto do camarada Custódio da Costa)
Escreveu o meu companheiro de lides Júlio Carrapato, algarvio, antigo exilado em França, ex-prof. na Universidade de Évora e homem de muitas culturas, um pequeno/grande textículo intitulado “Resposta de Um Anarquista aos Últimos Moicanos do Marxismo e do Leninismo, assim como aos inúmeros Pintaínhos da Democracia” de que hoje me lembrei a propósito de uma fauna que por aí anda, “ébria” de princípios “libertários”, mas a quem a mão descai sempre para a cruzinha no boletim de voto. Afirmam-se pela auto-organização, pelos clássicos do anarquismo, mas não falham uma oportunidade de serem candidatos numa qualquer agremiação de políticos profissionais em busca de um lugar no Parlamento ou na autarquia mais próxima. Aliás, qualquer ser que se preze fica lá bem (estou a gozar!), enredado naquelas discursos e debates, autênticas fábricas do nada.
Para quem os ouve, e vê, até parece serem gente perspicaz, quase quase revolucionária, gente interessada na mudança do “status quo”, que o mesmo não é dizer o “estado do cú”. Mas não. Eles são sempre e sempre (estes nossos parlamentares ou simples candidatos a) apenas aquilo que são: cacarejam como os outros, quais pintaínhos, e o que parece dizerem não é o que são, conversa para aqui, conversa para ali, cuequinha virada ao sol quando for Verão, pancadinha nas costas pelo belo discurso e estamos todos no mesmo barco.
Mesmo agora, sem eleições à vista, já andam numa ufa ufa a prepararem a próxima. Gastam todas as energias nisto. Uns, grávidos ainda (embora, sem o saberem e ainda que o pressintam, meramente testamentários de uma herança de sangue construída sob o signo do marxismo e do leninismo) de amanhãs que sempre foram de terror, outros. galináceos de um aviário “democrático” que nunca chegam a pôr em causa, só se revêem plenamente no acto de porem o rabisco na urna. Isso é que os deixa em transe e não perdem uma campanha.
Albert Libertad chamou-lhes “gado eleitoral”. Vão em manada para o “matadouro”, ciclicamente, a cada quatro anos (e sempre que podem, se forem antecipadas, melhor), imaginando que estão a escolher alguma coisa. E é nisso que põem todas as pequenas energias. Socialmente pouco agem, esgotam-se em reuniões e em liturgias internas e dividem-se entre funcionários das agremiações políticas (Lenine chamava-lhes revolucionários profissionais, o PCP e o BE funcionários políticos – a evolução do seu estatuto quer dizer tudo), candidatos, militantes e, no fim da escala, simpatizantes. Todos inúteis. Não têm o mínimo gesto, a mínima atitude que não seja arrebanhar gente, conduzir projectos, desviar energias das lutas transformadoras para a contabilidade dos seus pequenos (ou grandes) escritórios eleitorais.
Por mais um deputado, por mais um eleito, por mais um papagaio são capazes de tudo: nas missas eleitorais, a que chamam comícios, ou nos tempos de antena televisivos, apelam ao voto como quem vende um detergente milagroso no mercado das terças-feiras. Os mais perigosos envolvem a coisa numa embalagem mais vistosa. Em vez de detergente fingem vender champanhe das melhores colheitas. Dizem alguns “eu lavo mais branco”, “eu faço o que nunca fui capaz de fazer”, “eu sou o tipo que vai resolver o que nunca ninguém resolveu”, “comigo isto resolve-se”. Outros, os do champanhe, são mais sofisticados. “Estamos aqui por vocês”, “é um sacríficio que faço, perco dinheiro, mas acho que voces e o país valem a pena”, dizem eles. Tanta mentira, tanta banha da cobra, tanta miséria intelectual.
Esta gente é uma autêntica fábrica de nadas. Por isso até há quem vote neles. Geralmente a inutilidade atrai inutilidades.
(Que alternativas? A isso voltarei.)
Saúde e Anarquia!
Custódio da Costa
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