domingo, 31 de julho de 2011

cuspidos da roda


foto: Sebastião Salgado

para ser capaz é preciso ser feliz
para ser feliz é preciso ter saúde
para ter saúde é preciso ter dinheiro
para ter dinheiro é preciso ter trabalho
para ter trabalho é preciso ter juízo
para ter juízo é preciso não ter fome
para não ter fome é preciso estar atento
e para estar atento é preciso muita calma
e muita calma só tem quem está em paz
para estar em paz é preciso ser maior
para ser maior é preciso viajar
para viajar é preciso não ter medo
para não ter medo é preciso ser maluco
para ser maluco é preciso não estar preso
para não estar preso é preciso acreditar
para acreditar é preciso ter um sonho
para ter um sonho é preciso respirar
para respirar só é preciso estar vivo
e estar vivo faz sentido com amor
e o amor obriga-nos a abraçar
para abraçar faz falta mais alguém
e mais alguém chega para construir
para construir é preciso ser capaz
para ser capaz é preciso ser feliz
...

Santo Agostinho



Eu cá gosto muito de férias! Também gosto de mousse de chocolate, de Cesário Verde, do Esfinge Gorda, de canetas de tinta permanente, de árvores bizarras como o dragoeiro e da transição do românico para o gótico, cuja contemplação vale neste momento três euros e meio a preços de Évora.
Gosto de gente decidida que sabe o que quer e que passa por cima do que os outros não querem como se nada fosse.
Gosto de literatura de cordel, gosto mesmo! Gosto de bandas marciais e da genuinidade destas manifestações culturais.
Gosto de pessoas enquanto pessoas, não gosto da diluição a que o conceito de gente as submete.
Não gosto de democracia! A democracia é um redutor de liberdade adquirido nos parlamentos burgueses, uma coisa do séc. XIX, caduca.
A democracia é a uniformização, o mundo sem cor uma matiz desinteressante de cinzentos entre o preto e o branco…
Prefiro a Geocracia, das algas às baleias brancas, tudo em movimento perpétuo e descontínuo.
Abaixo os códices!
Gosto de Santo Agostinho não do de Hipona mas daquele que vai de férias em Agosto e suporta estoicamente as intermináveis filas de lata que pespontilham o asfalto e olé.

sábado, 30 de julho de 2011

poesia à varanda

(Marc Chagall - o poeta)

Cá estou a usar palavras
como se as parisse.
Uma vírgula poupa-me meia dor
da definitiva solidão do ponto final.
E se ainda assim o ponto fosse o terminus,
que me daria sofrer, se depois o descanso me
afagasse os sonhos.
Mas não.
Não é assim.
Nem tampouco quereria tão breve fim.
Restam-me então as palavras,
decantadas das ideias,
ou das veias, tão fortes e lassas…
Cá estou eu a usurpar palavras
como se me parissem.
E um ponto, seria meia dor a mais
que o instável desasar da vírgula…
E se ainda a vírgula fosse metade do caminho
que me resta percorrer?
Mas não é assim,
Nada me devassa a vontade de viver.
Nunca parei numa dúvida só porque nela
me embalava a indecisão.
Cá estou eu
Apalavrado a usar-me.
Como se a vida mais não fosse…

retiro espiritual


quando me sento aqui
e aqui é mesmo aqui
já vais ver onde
se continuares a ler
sinto que estou na perfeita ligação
a única religião de que somos todos praticantes
e se acendo um cigarro
ou outra coisa parecida
lanço à terra os meus restos
lanço ao ar o fumo que me vê por dentro
e se me ponho ao mesmo tempo a ortografar
é um prazer ser
poder estar
animal humano a cagar e a escrever
momento sujo poluente
tinta tóxica
papel floresta
fumo cancro
fezes bactérias
merda poesia

batatas fritas do macdonald's


Hoje
Descrevo-me numa elipse
Não que seja um indeciso
Mas a minha vida
Corre na curva
De um afecto prenho
Hoje
Centenas de luas passadas
Vejo-me como ontem
Um anarquista
Elíptico
Desafecto da razão
Mas por isso mesmo
Anarquista
Sem dó sem piedade
Sem nada que não o esófago
E o intestino
E a merda que cago
Depuração da merda que já comi
Que cai numa elipse
Até se eclipsar
No chão

já só falta o resto


Percorri as ruas desertas e escaldantes da minha cidade fim de Julho 40º à sombra e o que vi? As mesmas paredes brilhantes de luz e calor as mesmas desde sempre num serpenteado de linhas emaranhado arquitectónico colectivo popular feito na calma dos séculos e percebi a riqueza que nas calmas predomina E vi alguma sombra ao fundo do descampado porque se visse muita luz ao fundo do túnel ficava no túnel à fresca Avancei então pelo descampado do Giraldo e fui para o melhor sítio que não é um sítio mas são muitos sítios e nem é sítio sequer é um caminho cheio de sítios aleluia é um corredor de sombra por onde se pode percorrer algum centro histórico desta cidade média Por momentos senti-me por cima das azinheiras mas estava de facto debaixo dos arcos chiça penico a arquitectura sempre e só a arquitectura único valor que se afirma todos os dias aos olhos de quem passa quem visita quem vive É como andar numa maquete gigante e muito bem desenhada sim senhor quero lá saber Respirei deixa lá a arquitectura ela não tem culpa de ser magnífica e de a terem deixado sózinha até é fixe esta arquitectura Senti o tempo mais calmo e percebi recebendo aquela harmonia de linhas e volumes e espaços os frutos do valor verdadeiro do trabalho colectivo de pessoas ao longo do tempo Os arcos são mais bonitos quando são irregulares e diferentes uns dos outros e os telhados da praça do Giraldo não serem todos da mesma altura também ajuda Évora elogia a diversidade criativa de todos feita todos os dias numa sucessão de momentos de vida felizes e trágicos êxitos e fracassos sem planos directores municipais É bom estar perante o templo mas e perdermo-nos pela mouraria adentro Não não digo mal das obras do estado estão muito bem são magníficas soberbas o templo a sé e os ossos perdão é uma capela que pelos nossos espera e são todas obras de grande qualidade robustas sólidas e também fazem sombra e tirando o templo costumam ser fresquinhas lá dentro O cenário está brutal demorou mais de 2000 anos a fazer não podia ficar melhor e dificilmente se encontra melhor neste país agora falta o resto acontecer falta fazer o filme para que quando chegar a hora de entregar os ossos à capela tenhamos alguma coisa para ver.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Faber nº 3


No meio de nada habitam as ideias de supetão, daquelas que surgem num ápice, e num ápice se vão. É difícil desnudá-las, talvez porque todas as visões enverguem véus. além do mais, de que serve a verdade servida crua?
Só assim se entende que todas as histórias comecem por era uma vez...
Portanto era uma vez um lápis todo fanado, que alguém pendurou comodamente num portão de madeira, para que as coisas transitórias ganhassem, pelo seu uso, um carácter definitivo através do poder discricionário de quem registra.                
O dito lápis, um Faber nº 3 de l945, estava de tal forma gasto, que para o manusear alguém lhe colocou um tubo de cana.
Isto tudo para falar do culto do efémero, ou das parcelas concretizadas de um sonho,que  incompletas se desvanecem na necessidade de desabrochar noutras mais conformes à dimensão do momento.
Ora esse lápis, aparado a golpes de navalha, talvez pela sua reduzida dimensão, talvez pelo sítio quase esquecido em que o arrumaram, foi -se  paulatinamente tornando numa testemunha incontornável dos cometimentos de quatro gerações…
Ainda o tenho na minha sala junto com um pedaço do portão da casa das alfaias do meu avô.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sé de Évora

Três € e meio para assistir a este e mais truques.
A cultura está viva e manifesta-se

POR CAUSA DO EGAS MONIZ É QUE EU DETESTO A PRAIA


Podem dizer que isto não passa de teoria da conspiração, mas ninguém me tira da cabeça que o Egas Moniz quando foi de corda ao pescoço pedir batatinhas ao rei de Leão, levava consigo um acordo oculto, que vigora desde então e tem norteado as relações entre Portugal e o resto da península.
É o “Tratado do Fingimento da Independência Através dos Séculos do Grande Aterro Sanitário Também Conhecido Por Portugal.”
Criou-se assim uma zona alargada de autonomia e de tal modo alargada, que, quem não conheça o acordo, facilmente a confunde com um estado independente.
O brilhantismo da solução reside no facto de nem os próprios habitantes da área abrangida pelo tratado, terem conhecimento dele; apenas alguns iniciados, os “Guardiões do Aterro” têm conhecimento da sua existência.
O pressuposto em que tal arranjo assenta, é o de limitar a visão espacial dos autóctones a duas coordenadas, Espanha e o Mar; conseguiu-se com isto reduzir o mundo a um planisfério, apesar de os portugueses terem noção da esfericidade do planeta, pensam-no sempre a duas dimensões. Para que tal cenário funcione, é fundamental incutir na população o medo do outro, o perigo que ele representa; Assim, desde recém nascidos é-lhes inculcado o conceito que se resume num dito popular bastante corrente: De Espanha nem bom vento nem bom casamento.
A que leva isto? À necessidade de usar o mar como caminho. Espanha é o inferno a atravessar para se chegar ao mundo. Antes o mar…
Se o mar é a porta e Espanha o pesadelo, as gentes deste pequeno território de escassos recursos preferem viver junto à costa, na esperança de um dia poderem zarpar. Nasce assim a ideia de interioridade enquanto beco sem saída, algo que extravasa em muito a territorialidade, porque para os portugueses a interioridade representa a vizinhança com um muro vulgarmente denominado Espanha.
Foram necessários séculos para que pudessem atravessar Espanha e chegar ao resto da Europa, isso só aconteceu com a viagem de circum navegação, demasiado tarde para derruir o muro.
Porque quer o resto do mundo, quer os próprios  portugueses, já tinham aceite esse muro, já o tinham assumido como coisa natural.
O que extraio eu daqui? Que detesto ir à praia!
Porquê? Porque se não houvesse mar, não haveria Espanha e se não houvesse Espanha não haveria muro e nós seríamos muito mais felizes!
Sei bem que a culpa é desse cabrão do Egas Moniz! Mas que querem? Detesto a PRAIA!

pode ser já hoje

hoje
posso começar a ser diferente
olho para dentro e vejo o que não me agrada
e pode ser já hoje o dia da
revolução
não preciso esperar que estejam todos os camaradas conjurados
basta um encontro comigo silêncio calma e vazio
o oriente bem presente o norte sempre forte
o sul e o oeste e tudo o que tu me deste
inspiração momento pés na terra
montanha
deste lugar proclamo dentro de mim há muita gente
e hoje o mundo começa a ser diferente

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Évora Vila Nova do Descampado

Évora mentira plana e chata casotas aturdidas conservadas em lata

Évora não se justifica

A ideia de Évora é triste desde há séculos e séculos com intervalos para dar um espirro

Évora encostada a colunas de ruínas toda vaidosa património mundial de lâmpadas fundidas alegremente penduradas na muralha

Évora devia desvalorizar e talvez se a bola de sabão fizer flop alguma coisa aconteça e essa coisa faça acontecer outra coisa e essa por sua vez faça acontecer outra coisa ou uma anti-coisa finalmente algum movimento

Évora por hipótese passava a vila e ficava a ser o que é no presente mas sempre ficava mais decente

Era uma vez uma cidade muito bonita plantada no meio de um futuro deserto santa paciência a nobre colina onde fora erguida destacava-se na planície como uma grande teta de mamilo sempre erecto silhueta de catedral em fundo azul lilás entardecer… santa dormência

Évora tem uma boa silhueta ao longe e a cores mas de perto e a 3D não tem os mínimos é mal criada trata mal os filhos é disfuncional e não se ajuda quando resvala

Évora encontra-se mesmo já alguns pontos abaixo de vila

Capital de distrito reprovada em tantas alíneas que arrepia e toda a gente conhece a fotografia mas não faz mal parece que até há quem goste e se refastele na duna a ver passar os camelos que somos nós todos os dias camelos que uns dias passam outros dias observam mas sempre com fotogenia não vá aparecer o repórter da telefonia

Évora cidade 2000 anos e tal média dimensão não queremos ser metrópole nunca quisémos ser metrópole que bonito que genial destas não há muitas no mundo tão velhas e tão pequeninas e juntaram-se as miniaturas antigas aves raras num clube onde Évora como Évora que é não faz nada para não exagerar

Mas afinal quem é Évora essa ideia essa entidade que entre outras coisas é responsável por estarmos onde estamos e como estamos devemos ser todos mesmo muito especiais para aturar essa tal Évora e continuar por cá tipo pessoas com alto nível de santa paciência quem sabe talvez a grande riqueza depois do azeite e da cortiça pois não há melhor pachorra que a alentejana e a de Évora essa é a prima entre as pares

Se fossemos rigorosos e o mundo fosse para levar a sério Évora abria falência e logo reabria conforme pudesse e talvez crescesse perdesse a cagança com que se enleva de si mesma uma tristeza

http://www.youtube.com/watch?v=jF-CkMpQtlY&feature=player_embedded

terça-feira, 26 de julho de 2011

ai quem me dera editar as opções

Hoje passo pelo fecebook e o mundo não funciona a fingir que se está bem. A vida é como uma melancia doce e fofinha mas cheia de pevides e tenho medo de morrer. Se te ponho as mãos em cima com o fim de te confortar dizes boa noite vou dormir e os dezassete amigos em comum vão-se deitar. O mundo não funciona mas passo no facebook e sempre que passo e posso faço o comentário e gosto. Faço o gosto ao dedo o clique e mais de mil gostam disso. Gostem e partilhem amigos estamos com sorte venham cá ver o que se vê do miradouro da minha rua dizia-me uma amiga que não mora longe. E lá fui eu por aí abaixo até às publicações mais antigas onde não esperava encontrar nada e encontrei-te. Lembras-te convidei-te para um evento e tu disseste que ías participar caramba assim de repente fico em pulgas publico um documento uma nota crio um movimento assino uma petição e faço uma revolução. Mas o mundo não funciona não me distraias estou a fingir que estou bem desculpa afinal não tenho tempo espero que me compreendas fui identificado tenho notificações tenho amigos à espera quero ver mais vou meter-me em casa disse eu feito estúpido. E tu sempre a perguntar em que estás a pensar deixa-me adivinhar quero ver o teu perfil mas tu sinceramente alguma vez entraste no meu perfil como quem realmente entra num perfil ou só reviraste gavetas à procura de informação básica actividades e interesses. Por hoje chega não quero mais conversas chatas sinto-me bloqueado ou mesmo removido. Talvez o mar me acolha o cansaço na espuma do esquecimento ou outra citação do género… ai quem me dera aqui onde estou fazer clique no peito e editar as opções.

A Alegria da Felicidade


Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.
(Mário Sá Carneiro - Fim)



sábado, 23 de julho de 2011

Se As Galinhas Tivessem Cristas Chamavam-se Assunção


Bicadita aqui, bicadita acolá vão-se compondo simulacros de ideias, depois embrulham-se, convoca-se a comunicação social, que o mesmo será dizer reunem-se os escribas do costume, mais aqueles que mandam nos escribas e lançam-se umas atoardas para o pagode.
Abolição do uso de gravata para poupar na factura energética; brilhante! Vian onde estás tu, meu velho?
O que tem piada, mesmo muita piada, é que o povo gosta. A uns tiram a gravata a outros o emprego... é justo! afinal a crise é para todos e como diz o homem de Boliqueime, há que repartir sacrifícios...
Agora pelos vistos vamos ter as farmácias sem gravata, a ideia é boa; abarbatam-se uns pobrezinhos adoentados à porta do hospital e encaminham-se para a Câmara Municipal mais próxima, depois, arranjam-se uns atestados de indigência e, munidos de tão precioso documento, os pobretanas podem abastecer-se gratuitamente nas farmácias sem gravata, aquelas que disponibilizam parte dos seus lucros para distribuir umas quantas aspirinas de borla. Se além de doentes crónicos forem pobres crónicos, tanto melhor, poderão inscrever-se numa ong recente, " As Seguidoras de Madre Supico Pinto" e ficarão automáticamente a cargo de uma senhora qualquer que queira contribuir para a resolução da crise. Os pobres de Madame Espírito Santo, ou os indigentes da primeira dama, ou ainda os desafortunados da Senhora Tal, a título de exemplo.
Todos os anos por altura dos casamentos de Stº António as senhoras desfilarão com os seus pobres predilectos para receberem o merecido aplauso, a justíssima consagração.
A medida é boa e deve alargar-se aos transportes e à água, com as empresas privadas de distribuição da dita a cederem gratuitamente garrafões de cinco litros, mediante comprovativo de pobreza.
Bem hajam as Assunções mesmo que sem Cristas.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O Ponto de Rebuçado

Temo não chegar ao ponto de rebuçado, desagradável desconforto asado para uma escrita desasada.

Pergunto sempre antes de partir, convicto de nunca ver a resposta chegar. Tudo isto é fado, senhor barqueiro lá do outro lado.

Não me critique senhor doutor, não gosto de ficar pendurado, muito menos numa nota rouca do tal fado.

Afectos verdes, que mancham o forro do meu casaco feito de suspiros e ais. Não ais de dor, não senhor, outrossim daqueles cariados, que povoam os cascos carcomidos do sobredito fado.

Sabe mesmo muito bem nunca ir a nenhum lado, e nas horas mortas de desamor, carpir a sina de um império comido, muito bem mastigado e depois cagado, mas com remorsos, muitos remorsos, daqueles que ficam bem na cristaleira da sala que tem na parede a última ceia.

Cristo, onze apóstolos e um lobo mau que vendeu as pratas da família por trinta dinheiros, e apanhou uma overdose de moral cristã, à sombra da última oliveira alimentada no esterco do lugarejo.

Ai que bem que sabe um plebiscito pífio à hora do lanche, vinde a mim cordeirinhos, que hoje foi dia de manicura e as unhas estão aparadas, não temais bom povo, somos todos uns gajos porreiros, e se para mim dar estalos é lúdico, para vós apanhar é pedagógico, que siga o pagode, a roda da sorte ainda tem os grampos afilados, e só para quando eu disser. Por isso é entrar senhores é entrar, porque enquanto cá estiver, não é de bom-tom recusar, e quem recusa pode sempre sentar-se cá fora à espera da naturalização ou da aboborização, que é muito mais eficaz e prática porque dispensa o cartão e o numerozinho patético da identificação

domingo, 17 de julho de 2011

O Jogo




O futebol é uma sublimação do espírito guerreiro, tribal, que ainda reside no coração dos homens.
Juntamo-nos em torno de uma cor e enchemos recintos para apoiar os nossos campeões que no relvado, transformados em gladiadores, se confrontam pela honra da respectiva tribo. É a catarse.
A grande vantagem é que a coisa se resolve sem sangue, apenas com umas entorses, umas cabeças ou pernas partidas...
As gentes aceitam o desfecho da contenda e regra geral as decisões dos juízes, figuras inevitáveis para que o prélio se processe de forma ordeira.
Um grande salto civilizacional o futebol, com a vantagem acrescida de possibilitar uma recolha de fundos caso se cobrem ingressos para assistir à contenda.
Ocorre-me assim uma solução para o conflito que envolve por um lado os defensores da "Plataforma para a Cultura" pelo outro os seus detractores, com a CME à cabeça.
Porque não um jogo de futebol nas magníficas instalações da Silveirinha? Com ingressos pagos, Claro está!
Existem magníficos atletas de ambos os lados... Porque não opor a velocidade de um Miguel Sampaio à agilidade de um Zé Ernesto Oliveira? Ou o fantástico poder de finta de Margarida Morgado aos insuperáveis golpes de rins de Cláudia Pereira? Ou o físico poderoso de João Palma à endurance de Melgão?
Seria um confronto histórico. O vencedor seria alvo de sentida homenagem com febras e vinho tinto e a receita reverteria para a recuperação do Salão Central.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Zás e Catrapuz


o que eu gosto mesmo é do voo do milhafre. voo altivo, em círculos sobre a paisagem e depois um desabar de vertigem sobre a presa adivinhada. puro instinto.
se o milhafre escrevesse... ai ai... flanava sobre o papel em branco e... Zás! avistada a ideia dissimulada no branco da folha... Catrapuz! picava desenfreado e colhia-a sem contemplações. decompunha-a em todos os seus momentos e pimba!
ei-la exposta em pequenos, pequeníssimos símbolos agrupados no vasto desalinho do que fica sempre por contar.
pura matemática.
genética pura.
culinária de sensações.
retrato de sabores desprevenidos.
como a gente estampada que passou pelas paredes derruídas de hiroxima.

Asian Dub Foundation - Fortress Europe

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O Informal põe assim em causa, com os meios que lhe são próprios, as categorias de causalidade, as lógicas bivalentes, as relações de univocidade, o princípio do terceiro excluído


... "o Informal liga-se claramente a uma condição geral de todas as obras abertas. Trata-se de estruturas que aparecem como metáforas epistemológicas, resoluções estruturais de uma consciência teorética difusa (não de uma teoria determinada, mas de uma persuasão cultural assimilada)" ....
Umberto Eco in "obra aberta.

domingo, 10 de julho de 2011

Protesto


Vamos todos protestar!
São as agências de notação, essas malvadas, as testas de ferro dos especuladores, é a Grande Prússia, são os descendentes dos tipos que viajaram no Mayflower, os grandes interesses obscuros da finança internacional, o vento e a chuva, o granizo, a neve carbónica, os resquícios do carbúnculo, o acaso, a má hora...
Protestemos, protestemos! Façamos marchas infindáveis  Av. da Liberdade abaixo, com bombos e cornetas chocarreiras e palavras de ordem! Façamos greves articuladas com as associações patronais, com pré aviso, dia e hora marcados, para que se não crie a falsa ideia de querermos realmente mudar.
Juntem-se os oitenta por cento dos incomodados eleitores votantes, dos lambe botas sistémicos que sustentam o centrão e que obedientes se queixam quando os mandam e aplaudem quando lhes é sugerido.
Morra-se à míngua de protesto na boca, de braço no ar, de punho cerrado, morra-se!
Revolução é que não! Imensa varridela nos tiranetes de opereta, isso nunca! Presidente, Governo, Maioria! Rebanho, sempre!
É tão bom ter quem pense por nós, quem decida por nós, quem nos suicide por nós.
A culpa emigrou! Está toda lá fora!  Somos as vítimas porque é essa a nossa profissão, gostamos de sê-lo, gostamos de queixar-nos, temos aversão à Liberdade.
Olhamo-nos ao espelho e gostamos do que vemos, somos burros! não atingimos que a bela imagem que contemplamos é precisamente o inverso daquilo que somos...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Estamos todos pela cultura

parece que vai haver mais uma manif no giraldo

Essa Patranha do Trabalho



O poder é a maior cagada que se inventou desde que o homem é homem.

A bem dizer, a maior cagada, a profunda diarreia civilizacional, é esse postulado mentecapto de ser o trabalho uma fonte de virtudes.

O tanas! O trabalho é a coisa mais exclusiva à face da terra, a maior discriminação, a fonte de todos os males.

Contribuir para o bem-estar colectivo? O trabalho? Bahhh!

“Arbeit Macht Frei,” esta frase diz tudo acerca do trabalho. Enquanto trabalhas, não pensas, não chateias, não reivindicas. Enquanto trabalhas esqueces-te do motivo porque o fazes, anulas-te, submetes-te. O trabalho é a mãe o pai, os avós de todas as repressões. O trabalho é o mais injusto dos estratificadores, o retalhador da condição humana.

Criar! O conceito é criar! Quem cria expõe-se, contribui deliberadamente para a comunidade, produz. A mais valia do acto criativo é a partilha; a do trabalho é o lucro.

O trabalho implica a posse, mesmo que a posse do vento… Criar não!

Os recursos são de todos, usáveis por todos, partilháveis sem serem divisíveis.

O resto é acréscimo de pobreza sobre a pobreza de não crescer.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Hola! me gusta mucho la cultura

Vamos todos lutar pela preservação de um sistema complexo de códigos e padrões partilhados por uma sociedade ou um grupo social e que se manifesta nas normas, crenças, valores, criações e instiuições que fazem parte da vida individual e colectiva dessa sociedade ou grupo; ou ainda de um conjunto de costumes, de instituições e de obras que constituem a herança de uma comunidade ou grupo de comunidades, ou também pelo desenvolvimento dos conhecimentos e capacidades intelectuais num domínio particular (literário artístico ou filosófico).
O importante é que haja um moderado civismo...
PS. Agradeço a colaboração da porto Editora.

I am not in the moody


O pessoal do rating anda para aí a ratar. Ratam aqui ratam acoli, ratam onde querem.
Os ratados ficam à toa! lá vai anti inflamatório mais comprimidos para a dor, panaceias, merdices.
É que a coisa é viral, toda a gente curte, todo a gente sofre. Faz-se aquela cara tipo Clark Gable em gone with the wind, simula-se movimento de indignação, esbraceja-se, arrancam-se cabelos, dá-se com a cabeça na parede ao lado... Pronto já está!
De seguida... farmácia mais próxima, tubos de vaselina, olhos semicerrados e lá vai disto.
Parlamentos, governos, presidentes, reis, crustáceos, candelabros, panos roxos, tudo, tudo ,tudo, convenientemente espalhado sobre a colcha da avó e exposto à pública consideração da feira franca.
Votos, devotos dos votos, ex votos, totolotos, tudo espalhado à sorte, tudo gasto como fósforos ardidos.
Alguém que se lembre de fazer como os cães vadios e mijar-lhes nas pernas.
Tem de ser a partir!
Partir á séria, numa fúria silenciosa.
Tudo a eito, sem respeito, sem jeito, catrapuz!
Se não de tanto levarem com eles ainda ficam com um furúnculo na nuca; do bafo podre...