Pergunto sempre antes de partir, convicto de nunca ver a resposta chegar. Tudo isto é fado, senhor barqueiro lá do outro lado.
Não me critique senhor doutor, não gosto de ficar pendurado, muito menos numa nota rouca do tal fado.
Afectos verdes, que mancham o forro do meu casaco feito de suspiros e ais. Não ais de dor, não senhor, outrossim daqueles cariados, que povoam os cascos carcomidos do sobredito fado.
Sabe mesmo muito bem nunca ir a nenhum lado, e nas horas mortas de desamor, carpir a sina de um império comido, muito bem mastigado e depois cagado, mas com remorsos, muitos remorsos, daqueles que ficam bem na cristaleira da sala que tem na parede a última ceia.
Cristo, onze apóstolos e um lobo mau que vendeu as pratas da família por trinta dinheiros, e apanhou uma overdose de moral cristã, à sombra da última oliveira alimentada no esterco do lugarejo.
Ai que bem que sabe um plebiscito pífio à hora do lanche, vinde a mim cordeirinhos, que hoje foi dia de manicura e as unhas estão aparadas, não temais bom povo, somos todos uns gajos porreiros, e se para mim dar estalos é lúdico, para vós apanhar é pedagógico, que siga o pagode, a roda da sorte ainda tem os grampos afilados, e só para quando eu disser. Por isso é entrar senhores é entrar, porque enquanto cá estiver, não é de bom-tom recusar, e quem recusa pode sempre sentar-se cá fora à espera da naturalização ou da aboborização, que é muito mais eficaz e prática porque dispensa o cartão e o numerozinho patético da identificação
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