sexta-feira, 29 de julho de 2011

Faber nº 3


No meio de nada habitam as ideias de supetão, daquelas que surgem num ápice, e num ápice se vão. É difícil desnudá-las, talvez porque todas as visões enverguem véus. além do mais, de que serve a verdade servida crua?
Só assim se entende que todas as histórias comecem por era uma vez...
Portanto era uma vez um lápis todo fanado, que alguém pendurou comodamente num portão de madeira, para que as coisas transitórias ganhassem, pelo seu uso, um carácter definitivo através do poder discricionário de quem registra.                
O dito lápis, um Faber nº 3 de l945, estava de tal forma gasto, que para o manusear alguém lhe colocou um tubo de cana.
Isto tudo para falar do culto do efémero, ou das parcelas concretizadas de um sonho,que  incompletas se desvanecem na necessidade de desabrochar noutras mais conformes à dimensão do momento.
Ora esse lápis, aparado a golpes de navalha, talvez pela sua reduzida dimensão, talvez pelo sítio quase esquecido em que o arrumaram, foi -se  paulatinamente tornando numa testemunha incontornável dos cometimentos de quatro gerações…
Ainda o tenho na minha sala junto com um pedaço do portão da casa das alfaias do meu avô.

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