segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Já Chega Dessa Filha da Putice

A Maria (chamemo-la assim) toda a vida foi um saco de pancada do marido, o homem por dá cá aquela palha agredia-a violentamente. Ela calava-se, por vergonha, por medo, por que dependia do marido para subsistir…

Várias vezes foi ao hospital, com feridas para tratar, com fracturas, enfim… um rosário desfiado durante anos a fio, sem que ninguém se preocupasse em defendê-la. “ Entre marido e mulher não se mete a colher,” vox populi, sabedoria popular, o mais que seja para preservar esta indignidade de os mais fortes assaparem a mão nos mais fracos só porque sim; porque ontem foi sábado e amanhã é segunda.

Maria esperou que os filhos crescessem, pensou que com o tempo a agressividade do marido acalmaria, que a velhice seria mais tranquila, mas ao invés a situação piorou, cada vez mais agressões, cada vez mais insultos, mais humilhações.

Na parede da sala, para gáudio do marido e dos amigos de copofonia, uma tabuleta dizia “ quando chegares a casa, dá um par de estalos na tua mulher. São sempre bem dados. Se não a fez está para a fazer.”

Uma noite depois de ser mais uma vez sovada, Maria esperou que o marido adormecesse, agarrou num penico (inspiração divina) que estava debaixo da cama e deu com ele uma vez e outra e outra na cabeça do homem até o matar. Depois entregou-se à polícia, foi julgada, condenada e cumpre pena em Tires.

Diz que está tranquila, que na prisão é melhor tratada do que alguma vez foi na vida. Os filhos de tempos a tempos vão visitá-la, levam-lhe doces.

São incontáveis as agressões, assassínios, violações, perpetrados contra mulheres por esse mundo fora.

Vem-me à cabeça a frase de Desmond Tutu: “Quem sabe que uma injustiça foi cometida, e ignora esse facto, é cúmplice do opressor.” É verdade, nua e crua, sem mantos, sem desculpas; poder-se-á dizer que a violência doméstica vai muito além dos maus tratos infligidos às mulheres, que existem homens agredidos e abusados, crianças, idosos, tudo isso é certo. Mas, se não dermos nome às coisas, se não pusermos termo a estes constantes atentados à dignidade e integridade das mulheres, nenhuma outra forma de violência sobre terceiros terá também fim.

Chegou a hora de dizer BASTA! Sem desculpas, sem tibiezas, sem paninhos quentes.

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