domingo, 30 de outubro de 2011

O Monólogo de Tântalo


Eis-me no meio da abundância e entanto tão distante dela...
Tudo o que suponho ao alcance do desejo se distancia no meu gesto.
Será a Liberdade filha do sonho? Apenas?
Poderia, eu! Que sou filho de Zeus e privei na mesa dos deuses, eu que tive acesso aos segredos do Olimpo, querer para mim somente, esse supremo conhecimento e não o revelar aos homens?
Seria feliz e livre, poderia mesmo criar nos meus semelhantes essa indizível e doce inveja de me saberem mais alto, de alcançar mais longe, de infundir-lhes incertezas com a força do meu olhar...
Mas não me serve a Liberdade construída no silencio dos outros.
Não me apraz o poder que nasce da submissão.
Não quero viver um mundo sem contornos nem horizontes, sem o encanto nascido das diferenças que nos tornam próximos.
Falei! Falei a verdade e falando-a derrubei muros, arrasei fronteiras, pus em causa inescrutáveis servidões.
Com isso ganhei a imortalidade, mas com ela perdi o gesto.
Condenei-me a viver com a Liberdade sem lhe poder tocar...

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