quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Os Khoisan e o 15.O


Aquando da ocupação da África do Sul por colonos holandeses e franceses huguenotes, os Khoisan (vulgo bosquímanos) ocupavam ainda áreas consideráveis do território que é hoje a Namíbia e o Botswana.
Os europeus chegaram, instalaram-se e ocuparam as terras, dedicando-se na sua maioria à agricultura.
Para evitarem que os animais selvagens lhes destruíssem as colheitas, levantaram cercas em volta das suas propriedades, essas cercas eram de arame farpado, sustentado por barrotes de madeira parcialmente enterrados.
Os Khoisan que eram (ainda são) caçadores recoletores, não tendo por isso a noção de posse do território, nem tão pouco a de demarcação desse mesmo território, viram nos barrotes de madeira uma oferta do homem branco, que utilizaram para mais diversos fins. Ao fazê-lo destruíram as cercas e enfureceram os agricultores que os caçaram como se fossem animais. Muitos foram mortos.
Os europeus embarcados na ilusão da sua superioridade cultural, levaram praticamente ao extermínio uma cultura de dezenas de milhar de anos, que sempre funcionara até eles chegarem. Os Khoisan foram aniquilados por via da ingenuidade da sua boa fé.
Na prática os agricultores venceram porque detinham o poder; das armas, da falta de escrúpulos e nem beliscaram as suas consciências porque se julgavam legitimados por um desígnio superior.
Na realidade limitaram-se a atribuir mais valor ao ter do que ao ser.
Se trago aqui este episódio da história universal da infâmia, é porque lhe encontro paralelismo com o que se passa hoje em dia à escala global.
De um lado os detentores do poder; político, económico, tecnológico, religioso… do outro, todos os que se não revêem neste paradigma, que procuram outras formas de interacção, de relacionamento, outras soluções mais abrangentes, mais justas.
Mas não nos iludamos, se há uns anos os partidos eram resposta nesta luta, ou os sindicatos, hoje em dia podem constituir parte do entrave à mudança. Ao não admitirem formas de organização e de resposta à crise, fora das suas fronteiras, limitam-se a reconhecer que o seu tempo se esvai. Os partidos são estruturas funcionais que só sobrevivem dentro deste paradigma.
Se um partido político não consegue admitir que o movimento reivindicativo se desenvolva fora das suas fronteiras, está a inquinar à partida o sucesso dessa mesma luta.
Não existe já um imenso exército, organizado e disponível, uniformizado numa luta de classes cada vez mais difusas. Existem minorias que se organizam em torno de lutas comuns, que se desfazem quando elas se findam, para se congregarem mais à frente... nenhum partido pode dar resposta a isso, ou se integra ou se esgota no seu autismo.
Chegou a hora do protesto dos cidadãos apenas enquanto tal, mulheres e homens congregados numa vontade comum de mudança.
Depois outras horas se seguirão...
Aí se verá qual o porvir das coisas, que representação, ou não, as gentes do mundo quererão para si.
Dia quinze de Outubro pelo mundo inteiro é a contemporaneidade que se manifesta. Nela todos cabem, tudo se questiona todas as soluções são possíveis, desde que como os khoisan consigamos derrubar as cercas dos múltiplos quintais que por aí abundam.
Ou as derrubamos ou nos enredamos nelas.

Sem comentários:

Enviar um comentário