sábado, 13 de agosto de 2011

david engolias


fui até à sala respirar ouviam-se lá fora os carros que passavam sem levantar questões respirei fundo e senti os alvéolos a fazer o que sempre fazem estica encolhe enche esvazia um pouco aborrecidos mas tudo normal

na cozinha o copo comportou-se com maturidade deixou-se encher sem pestanejar e a água não resistiu moldou-se na perfeição se bem que com alguns salpicos rebeldes mas nada que não se extinga pela goela abaixo

o mundo não apresentava sinais preocupantes

ágil como sempre agarrei o comando e sentei-me no sofá fazia isto com bastante desenvoltura ainda estou para as curvas pensei ainda assim estranhei a facilidade com que o comando se deixou apanhar e o sofá que nem bufou quando levou com o meu peso nas molas suspirei de alívio estava em paz com a mobília e isso deixava-me tranquilo

o frigorífico relinchou de barriga cheia e eu acalmei-o sem sair do lugar com um assobio resultou era um modelo inteligente tinha de ter cuidado foi então que me lembrei do exagero de produtos frescos que trouxera do supermercado e pedi-lhe desculpa é que estava tudo em promoção nem tirei as mãos dos bolsos engatei o carrinho nos carris e as mercadorias saltaram das prateleiras à minha passagem em piruetas musicais são os melhores dias coitado do frigorífico

lembrei-me da cara da menina da caixa e do sorriso com que me recebeu do brilho nos olhos quando perguntou quer saco num tom vivaço disse logo que sim disse logo três ou quatro sins tantos quantos os sacos de que precisava dez

sem largar os seus olhos que de repente estavam mais abertos mais fundos quis mergulhar naquele poço onde me adivinhei sem medos sem limites saltei e quando já sentia que entrava fui apanhado pelos pés por um segurança em quem confiei logo ao primeiro toque é bom quando os seguranças nos inspiram confiança e relaxamos nos seus braços sem dificuldade

pedi desculpa a todos os presentes recompus-me vesti-me à pressa e tentei apanhar o cartão gorduroso que se esgueirava como uma enguia dentro da carteira não estava a conseguir começava a suar da testa das axilas das virilhas e receei o pior a mão dela apareceu sobre a minha tremi arrepiei-me desisti beijei-a longamente lábios nos lábios esquecidos do mundo quando voltei a olhá-la nos olhos a sua voz era grave húmida e embora gaguejasse um pouco nem a voz nem ela perdiam encanto não me deixou pagar disse-me ao ouvido que eu era especial que me podia aumentar a dívida mordiscou-me o lóbulo e prometeu que nunca me abandonaria ainda sinto o arrepio pela espinha

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