sábado, 20 de agosto de 2011

par de estalos grátis


estava sentado na cama com as calças meio vestidas enquanto lá fora o sol nascia devagar e entrava pela janela mal aberta do meu quarto

para o planeta era assim que o dia começava

para mim bem podia estar a acabar sinceramente não sabia estava em pausa uma pausa rodeada de esquecimento

eu a cama e as calças meio despidas ou meio vestidas sono pesado parado assim durante alguns segundos nem deitado nem levantado uma eternidade

naquele exacto momento não sabia que caminho seguir tinha tido uma semana difícil medos invejas os euros não valem nada uma correria era natural estava baralhado

não sabia mesmo se tinha as calças meio vestidas ou meio despidas se tinha estado deitado até àquele momento ou se estava de chegada à cama para dormir

tentei lembrar-me mas só me via ali parado assim com as calças enfiadas numa perna desenfiadas da outra a janela mal aberta ou mal fechada e o dia podia muito bem estar a acabar apesar do sol nascer porque na maior parte dos casos o meu mundo não é deste planeta

queria que houvesse alguém a quem perguntar visto-me ou dispo-me mas a cama estava vazia não encontrei lá vivalma à excepção do meu traseiro meio vestido ou meio despido tão perdido como eu

se comandasse uma nave e andasse pelo espaço em missão teria gravado aqui capitão david da nave estrela do futuro são onze da noite a tripulação está esgotada encontrámos um planeta com vida mas não falavam inglês e começámos aos tiros agora vou-me deitar porque já são horas over and out e assim saberia que podia despir a perna vestida e passar à posição horizontal

mas qual gravador qual capitão qual nave qual missão

um primeiro raio de sol quis entrar pela janela mal aberta ou mal fechada e veio picar-me os olhos atarantado sacudi a cabeça faz qualquer coisa mexe-te calma acredita não me lembro se venho da cama ou da rua a vida não tem sido fácil vê-se muita televisão come-se mal a cabeça fica uma mixórdia de medos e invejas estou estremunhado

quando souber donde venho logo me decido

o sol que não é do mundo e ainda não foi privatizado não tem paciência para problemas existenciais rebentou com a janela e pregou-me um par de estalos grátis

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