Tonteria de um déspota em pré reforma, a pretensão de que ainda detém o poder sabendo que a morte, irremediável transmutação, se aproxima da sua porta?
Como explicar a contradição entre o desejo que lhe alimenta o sonho e a consciência de que tudo passou. Vejo-o nostálgico já, do que não viveu.
Agora que o seu poder se esboroou que lhe resta?
Nanja que a vida lhe tenha sido escassa, viveu. Ainda vive, mas num contemplar tardio, suficiente para visitar recordações, memórias persistentes, capaz de desfiá-las, visitá-las, reinventá-las, só que num caminho aspirado, apenas.
Teve tudo, excepto a noção de si.
Teve espelhos até; exemplos, estradas que outros abriram e lhe mostraram que o caminho não é escolha de quem o percorre…
Agora sussurra revoltas, mágoas, solicita ao tempo aquilo que ele lhe não pode dar, porque o tempo não ouve, o tempo não existe, é uma curva no infinito e ele, o déspota, uma migalha de outra migalha que se soltou de um átomo.
É isto a vida.
Déspotas somos todos, é a nossa circunstância.
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