quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Finanças e Fé III


Desta série a que chamámos Finanças e Fé falta apenas referir duas ou três coisas sobre o futuro próximo e longínquo deste belo país.
É preciso entender de forma mais detalhada como o que nos está a acontecer radica a sua essência numa teoria, transformada em ideologia ( no mau sentido...). Sim, caros portugueses! O que vos aconteceu não foi um castigo dos deuses, não é uma questão moral. É uma ideologia com base numa doutrina económica, com os seus pensadores, intelectuais orgânicos, livros e jornalistas a soldo. ( É risível a ignorância de quase todos..o Costa...então..um "ponto" como o Jorge, o tal que "tentou beber o presunto por uma palhinha", lá diria O'Neill...).
A questão começa no final da guerra com a Mont-Pellerin Society, uma organização relativamente informal onde pontificava o economista austríaco, Friedrich Hayek.
Basicamente, tratava-se de diminuir o peso do Estado que a guerra tinha tornado enorme no contexto de guerra total que se viveu na Europa.
Demorou tempo até que estas ideias: menos estado, o indivíduo acima de tudo, a recuperação das ideias clássica em economia, entre outras, triunfassem...
Reagan e Thatcher nos anos 80 levaram, finalmente, ao poder os defensores desta visão da sociedade.
Ironicamente, ou talvez não, estes liberais e os marxistas pensam da mesma maneira: o homo economicus, racional, capaz de escolhas perfeitamente racionais, na posse de toda a informação, em mercados que são relações entre pessoas, que desta forma funcionam perfeitamente...uma pescadinha de rabo na boca. Como ideologia, é perfeitamente imbatível. Simples, eficaz e pouco permeável à crítica. Popper está, nesta altura, às voltas na tumba.
A realidade é bem mais complexa, e para além da realidade, ao seu dispor, tiveram uma máquina de propaganda como várias vezes se viu no Ocidente.
Os Evangelistas do Mercado ganharam. ( É também um excelente livrinho..esgotado, claro, onde se explica muito bem como o dinheiro, os think tanks, os media contribuíram para isto).
Ao lado da economia vem também uma visão moral e ética da sociedade. O lucro como motor, a pobreza como responsabilidade individual, o desenraizamento do indivíduo, visto fora das comunidades a que pertence. Dizia a Baronesa Thatcher, " que não existia essa coisa da sociedade. Apenas existiam indivíduos e famílias".
É com base nestes pressuposto teológicos e não económicos, ou sequer científicos, que estamos a ser governados. O que vai acontecer a seguir é tema para outra posta.

1 comentário:

  1. Muito bom Sr. Conde.
    A falta de um olho apurou-lhe a visão... focaliza melhor as coisas...

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